[News]"Encontro Você no Oitavo Round", novo livro de Caê Guimarães.



''A atividade literária, com todas as suas agruras e também suas delícias, é algo fundamental na minha vida'' Caê Guimarães 






Coluna: Caê Guimarães é nascido no Rio de Janeiro, em 1970 e vive atualmente em Vitória, capital do Espírito Santo. Ele é escritor, poeta, jornalista e roteirista. Tem cinco livros publicados, entre poesia, conto e crônica. O mais recente é Encontro você no oitavo round, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2020, sendo o primeiro romance publicado.



Acompanhe a entrevista com o Escritor



Joacles Costa: Quais são os seus livros publicados?

Caê Guimarães: Por baixo da pele fria (poesia, Massao Ohno Editor/1997),


Entalhe Final (conto, Massao Ohno Editor/1999),


Quando o dia nasce sujo (poesia, Secult-ES/2005),


De quando a minha rua tinha borboletas ((poesia, Secult-ES/2010),


Per sota de la Pell freda (edição catalã de Por baixo da pele fria, tradução Joana Castells, poesia, Courbet Edicions/2013),


Vácuo (poesia, Editora Cousa/2014),


Por baixo da pele fria 3ª edição comemorativa de 20 anos de lançamento (poesia, Editora Cousa/2017),


Encontro você no oitavo round (romance, Editora Record/2020)





Joacles Costa: A partir de sua trajetória pessoal, como você vê o desenvolvimento do campo profissional, literário e acadêmico no Brasil, levando-se em conta as diferentes camadas deste processo?

Caê Guimarães: Não sou acadêmico, não me sinto confortável para abordar essa área. Sobre ser escritor no Brasil, é o caminho árduo que sempre existiu, agravado por uma diminuição drástica do número de leitores, das tiragens de livros, do surgimento de novos leitores. Em contraponto, as redes sociais nos colocam, como nunca antes, capilarizados, em estreito contato com colegas de ofício e público de todo país e de fora dele.

Comecei a ser publicado por uma pequena grande editora, a Massao Ohno, depois venci os dois editais de publicação nos quais inscrevi livros, depois outra pequena grande editora, a Cousa, e agora estreio como romancista em um grande grupo editorial, a Editora Record. Vencer o Prêmio Sesc 2020 abriu essa porta, algo muito importante, ainda mais se levarmos em conta a crise econômica que também castiga o mercado editorial brasileiro. Antes do prêmio, fui indicado para outra grande editora, tive um retorno muito positivo com relação à qualidade do meu trabalho, mas a crise paralisou a contratação de novos autores nesta casa. Com a Record a relação tem sido excelente, muito respeitosa. Mas a atividade literária, com todas as suas agruras e também suas delícias, é algo fundamental na minha vida. Caso não tivesse a alegria de ganhar o Prêmio Sesc 2020 eu continuaria a escrever e publicar, nas formas e fôrmas possíveis.


Joacles Costa: É possível sobreviver somente da poesia?

Caê Guimarães: Octavio Paz dizia que “todo poeta tem uma ocupação que o redime, mesmo que essa varie da diplomacia ao crime. Escritores e poetas geralmente têm outra ocupação, até que consigam, casos raros, viver exclusivamente da literatura. Muitos são professores universitários, outros são tradutores ou roteiristas. No caso da poesia creio ser ainda mais difícil, o número de leitores de prosa é maior, o que não implica em absoluto em um caminho fácil para se viver do que escreve.


Joacles Costa: Escritores de poesia tem mais dificuldade de serem

(re) conhecidos nacionalmente?

Caê Guimarães: Foi o que disse na resposta anterior, há menos leitores de poesia. O reconhecimento nacional pode vir de uma série de fatores, o respaldo de colegas, boa capilaridade nas redes sociais, algum prêmio que lance luz sobre a obra. Mas, ao final, o que vale é: se o trabalho é bom, cedo ou tarde, com maior ou menor expansão, ele acaba reconhecido. Quando não é bom, pode até render um número legal de likes nas redes, mas o tempo e sua ação corrosiva se encarrega de separar o que fica e o que evanesce. Mas o caminho da poesia, não apenas no sentido de reconhecimento nacional, me parece mais árduo.


Joacles Costa: De que forma a poesia provoca uma certa desautomatização da língua e da linguagem social e amplifica vozes que por séculos calaram-se?

Caê Guimarães: Da mesma forma que qualquer manifestação artística. Subvertendo a linguagem. Transformando-a em algo novo, fértil, aberto. Forjando a realidade – e aqui vamos de Maiakovski, “a arte não é o espelho que reflete o mundo, mas o martelo que o forja”. Oferecendo para as pessoas camadas distintas de entendimento e de fruição estética, com doses iguais e cavalares de beleza e assombro. As vozes secularmente caladas às quais você se refere encontram reverberação na arte. Mas o artista tem que estar atento, e novamente cito Maiakosvki, ao fato de que “não há arte revolucionária sem forma revolucionária”.


Joacles Costa: O seu livro mais recente é o Encontro você no oitavo round. Como foi esta trajetória de chegar ao Prêmio Sesc de Literatura 2020?

Caê Guimarães: Muito trabalho, muita transpiração e alguma inspiração. Horas e horas de leitura e escrita. Não há outra fórmula, é ler e escrever, ler e reescrever, reler e escrever. Já ensaiava a tentativa de um romance desde 2008, terminei um primeiro, mas não gostei do resultado. Está na gaveta, de onde provavelmente jamais sairá. O Encontro você no oitavo round foi feito ao longo de sete ou oito anos, com três longas interrupções, uma delas de mais de ano. Tenho versões diferentes deles, ao menos três. Um romance breve, curto, mas que demandou uma longa construção.





Joacles Costa: Que tipo de reflexão o leitor encontrará em seu livro ENCONTRO VOCÊ NO OITAVO ROUND?

Caê Guimarães: As reflexões sempre variam de leitor para leitor. Ao final, romancistas e narradores em geral falam dos mesmos temas que são abordados desde o surgimento das narrativas na espécie humana. Frustração e conquista, júbilo e luto, alegria e tristeza, vida e morte, amor e ódio. Quando penso em como responder a uma pergunta como essa me vem à cabeça tratar-se da história de um homem cingido, que abandonou um caminho para o qual havia sido talhado e na reta final da trajetória que escolheu repassa memórias, fraturas, derrotas, cicatrizes, verdades. Escolhi a cena do pugilismo, entre outros motivos, por tratar-se de um território onde se encontram pesadas cargas dramáticas e sociais. O boxe é uma atividade extenuante, exige tremenda entrega física e mental, além de ser potencialmente perigoso, lesões cerebrais permanentes e até mortes aconteceram, acontecem e acontecerão entre seus praticantes profissionais. Soma-se a isso ser também um lugar de afirmação e fala das minorias, invariavelmente os boxeadores são oriundos das camadas excluídas da população, até mesmo na cena internacional os grandes pugilistas são negros, caribenhos, sul-americanos, filipinos. A isso tudo somei uma boa dose de reflexões que apostam nas semelhanças entre o pugilismo e a literatura. E no centro disso tudo, um homem, como disse, cingido, fragmentado, não em busca de redenção ou sentido, mas em busca de uma imagem refletida em um espelho quebrado. 

Título: ENCONTRO VOCÊ NO OITAVO ROUND




Encontro Você no Oitavo Round, é sobre a vida de Cristiano Machado Amoroso, um lutador de boxe e escritor que vive muitas dificuldades na profissão de lutador. Entretanto, participa de lutas clandestinas em troca de derrotas dentro das plataformas quadradas do ringue.


Autor: Caê Guimarães

Ano: 2020

Páginas:

Preço: R$ 30 reais (média)

Editora: Editora Record

Onde Comprar: Em livrarias, no site da Record, na Amazon

Contato no Instagram: @caeguimaraes70



Leitura EM DIA: O que você está lendo no momento?

Estou lendo o curitibano Cristovão Tezza (O Fotógrafo), e relendo o baiano Antônio Torres (Carta ao Bispo) e o mineiro Wander Piroli (A mãe e o filho da mãe).

PR/Joacles


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