[Resenha] Mudbound Lágrimas Sobre o Mississipi

Sinopse:Ao descobrir que o marido, Henry, acaba de comprar uma fazenda de algodão no Sul dos Estados Unidos, Laura McAllan, uma típica mulher da cidade, compreende que nunca mais será feliz. Apesar disso, ela se esforça para criar as filhas num lugar inóspito, sob os olhos vigilantes e cruéis de seu sogro.
Enquanto os McAllans lutam para fazer prosperar uma terra infértil, dois bravos e condecorados soldados retornam do front e alteram para sempre a dinâmica não só da Fazenda, mas da própria cidade. Jamie, o jovem e sedutor irmão de Henry, faz Laura de repente renascer para a vida, enquanto Ronsel, filho dos arrendatários negros que trabalham para Henry, demonstra uma altivez que não será aceita facilmente pelos brancos da região.
De fato, quando os jovens ex-combatentes se tornam amigos, sua improvável relação desperta sentimentos violentos nos habitantes e uma nova e impiedosa batalha tem início na vida de todos. 

O que eu achei:
Este livro faz parte da categoria "leitura lenta e imersiva" o quê significa Isso? A temática apresentada necessita de grande reflexão e apreciação dos temas abordados que por incrível que pareça ainda são extremamente latentes no nosso cotidiano (mesmo que o livro seja retratado após a segunda guerra mundial).
Todo o ódio presente em Pappy é sufocante, o preconceito com os personagens Negros, a diminuição da condição da mulher apresentada na relação de Laura com seu marido e sogro, além dos traumas de guerra de Jamie e Ronsel me fizeram ficar muito angustiada. Com citações à Deus e a bíblia (algo bem presente na época no local onde a história é passada) essa religiosidade tende a justificar algumas atitudes e acalentar o sofrer das almas desses personagens tão bem construídos e destrinchados nas 269 páginas deste romance.

A narrativa é dividida entre os personagens principais, porém Laura é a primeira a propriamente contar o que levou a acarretar essa tragédia e também no meu ponto de vista é a personagem com maior peso dramático. Ela é uma mulher de meia idade, que quando estava na casa dos 30 anos aceitou que seu destino seria ser uma solteirona, a jovem da cidade dedicada a sua profissão e com um futuro relativamente solitário, porém, tranquilo. Com o surgimento de Henry em sua vida e o interesse dele de lhe prover uma família, Laura aceita se casar, não por amor e sim para não ser um fardo a sua família e também pelo fato de isso ser o esperado das mulheres na época. O casamento trás uma estabilidade para Laura, Henry e suas filhas, mas tudo muda com a decisão dele de se mudar com a família para as terras adquiridas no meio do nada (longe da cidade, sem energia elétrica, com a casa imunda, lama para todos os lados e solo infertil) e agregando o seu pai "Pappy" um velho completamente desagradável e preconceito ao seio familiar.

"Assim, de repente, minha vida virou de cabeça para baixo. Em nenhum momento Henry perguntou o que eu achava de abandonar a cidade que fora o meu lar por 37 anos para ir morar naquele fim de mundo com um sogro perverso".

Com a efetiva mudança para as terras, Laura que se torna extremamente solitária e infeliz aguentando todo o terror psicológico de seu sogro e o nítido rompimento de seu casamento, um pequeno conforto para ela se torna a amizade com Florence, esposa de Hap um dos arrendatários de seu marido.

Hap e Florence são pessoas boas, trabalhadoras e de coração aberto a acolher os recém chegados, o sonho do casal é um dia poder ter o seu próprio pedaço de terra e viver dignamente, tal sonho parece ser uma jornada destinada ao fracasso devido a serem negros. Mesmo com todo o esforço de Hap e Florence o racismo presente em cada trecho, trás momentos de angústia e rebaixamento do casal aos olhos dos McAllan.

O retorno de Jamie e Ronsel da guerra na Alemanha nazista, consegue bagunçar ainda mais a vida das duas famílias. Ambos os jovens estão completamente mutilidos mentalmente pelo que viveram em território alemão. Essa condição de instabilidade emocional une ambos em uma amizade improvável, porém, necessária a ambos, afinal ninguém mais naquele fim de mundo sabe o que esses jovens viram, fizeram e sofreram.

"Vai trair seu próprio sangue só por causa de um crioulo? ".

Com a aproximação de Jamie da infeliz Laura, ambos começam a ser tragados para um romance proibido e que não passam despercebidos dos olhos de Henry e Pappy, este que faz questão de deixar ainda mais latente a situação e instigar o crescente conflito. 

" Pappy achava que eu não percebia nada, mas estava enganado. Mesmo que eu não tivesse dois olhos perfeitos para enxergar, os ouvidos estavam lá para ouvir. Se Jamie estivesse por perto, Laura parecia cantar. Se eu me aproximasse, ela mal se dispunha a murmurar".

Finalizo dizendo o quanto vale apena conferir essa narrativa e seus desdobramentos, além de ressaltar que essa leitura deve ser realizada com bastante calma e apego aos detalhes, não apenas para entendimento do que foi proposto pela Autora, como aprendizado pessoal.

Por Jaqueline Ribeiro

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