[Entrevista] Diego Moraes fala um pouco sobre suas influências e seu novo álbum

Crédito// Cisco Vasques
O Yutube me indicou um artista nacional, e quando decidi assistir ao vídeo, foi amor ao primeiro tom! E mais um artista foi adicionado a minha lista de favoritos. Diego Moraes chegou para causar e movimentar o cenário musical nacional de uma forma absurdamente necessária.
Falando sobre a infância, suas influências musicais e seu mais recente trabalho, o álbum "#ÉQueEuAndoDeÔnibus, o cantor paulista Diego Moraes concedeu uma entrevista para nós do Reino!
Confira a conversa na íntegra!

Quando surgiu, ou quando você percebeu que tinha vocação para o meio musical? E como foi esse início?
Diego Moraes: Minha mãe conta que quando me ninava cantando eu não dormia e ficava mais acordado ainda. Ela e meu pai sempre cantaram em casa.
Quando eu era criança, uns 5 ou 6 anos, o projeto social “Pastoral da Criança” apareceu no bairro fazendo aquele suplemento alimentar com casca de ovo para as crianças não ficarem anêmicas. EU ODIAVA ESSA FAROFA, mas amava a moça que vinha ensaiar músicas voluntariamente com um coralzinho de no máximo 15 crianças. Um dia fomos encontrar todas as crianças do projeto cantando e abrimos vozes em “Dona Nobis Pacem”, com mais de 1000 crianças no estádio do XV de Piracicaba. Quando as vozes se abriram foi uma emoção tão grande e isso me fez entender o que eu seria pro resto da vida.
Sou de uma periferia rural e acredito que se não fosse uma voluntária do projeto social “Pastoral da Criança”, que nos ensaiava na garagem da vizinha, talvez o meu dom não tivesse sido descoberto nem por mim...
Depois estudei Piano e Violão ao longo da minha infância. O que na verdade eu sempre digo é que eu só canto hoje porque estudei instrumento musical.

O grande público teve contato com o seu trabalho pela primeira vez no programa Ídolos, em 2009, certo? Como você se via com artista naquela época, em comparação a hoje? E como foi a experiência de cantar em um programa com aquela proposta?
DM: Eu era muito feliz cantando em barzinho.
Era muito, muito cansativo porque eu conciliava com meu trabalho no shopping em uma óptica.
Naquela época eu era muito mais preocupado em “como” cantar e não em “o que” cantar... até ler um livro da Hilda Hilst e ela me jogar na cara que eu era um bosta.
Naquela época também eu tinha que cantar música pra pagar aluguel e cantava muita coisa que eu não curtia só pra agradar os pagantes da balada.
Não tinha a oportunidade de cantar o que eu pensava e hoje em dia, devido ao fato de muitas pessoas me conhecerem, através da minha experiência na TV, posso cantar o que eu quero e penso. Elas até ficam curiosas em saber...
Costumo dizer que eu era uma “criança bêbada e gospel” cantando. Hoje em dia eu só não sou mais Gospel, o resto eu sou tudinho ainda...

Antes disso, você participou de algumas bandas que tinham como repertório covers de jazz e soul. Como se iniciou o seu contato com esses estilos? E quão importante foram para moldar sua assinatura musical atual?
DM: Eu morava com meus pais e irmãs em uma casa de 3 cômodos e dormíamos todos no mesmo quarto.
Um dia, sei lá, com 4 anos eu me deparei com um concerto de música clássica na televisão e fiquei vidrado então, com 5 anos de idade, eu pedia pra minha mãe me acordar todas as madrugadas de concerto de música clássica na TV Cultura e se ela não me acordava eu ficava de mal.
Não sei porque cargas d’água um menino nascido no interior de SP bombardeado de música sertaneja por todos os lados e tudo o que isso envolve, se apaixonou inicialmente pela música clássica.
O jazz foi na adolescência quando eu matava aula pra assistir a Lu Garcia e Legal nos bares da cidade.
Quando eu vi a Lu Garcia cantando e o Legal tocando violão pela primeira vez na minha vida, fiquei estatelado.
Pensava: “Meu Deus o que que tá acontecendo no ar, o que tá acontecendo comigo, o que ta acontecendo com meu estômago?” Eles são puro jazz e música brasileira.
Foi então que eu mergulhei na Ella Fitzgerald, Ray Charles e Billie Holiday de cabeça.
Sempre me lembro de minha gritando em casa:
- Pelo amor de Deus, desliga essa gata que eu não aguento mais ouvir ela miandooo.
Era a Billie Holiday

Como você enxerga o seu álbum “Meus Ídolos” para o seu desenvolvimento como artista?
DM: Sou muito louco.
Eu odeio me ouvir ou raramente gosto dos registros em que estou cantando.
Eu não gosto de mim cantando em “Meus Ídolos”, mas carrego um profundo aprendizado relacionado à produção, burocracias empresariais, dia-a-dia no estúdio de gravação, viajar com os meus amigos músicos em shows pelo país.

Sobre o seu novo álbum, como foi o processo de encontrar sua própria sonoridade com a influência de estilos tão marcantes e grandiosos, como o jazz?
DM: Foi um dos maiores desafios vestir a música com essa roupa-atmosférica soul e jazzy e ainda sim ser música brasileira.
Não queria que fosse groove Tim Maia nem Jorge Bem Jor, queria mais dramaticidade.
Edu Capello, o direto musical e melhor amigo desse disco, fez esse trabalho com uma maestria rara.
Nos conhecemos no show da Sharon Jones no Ibirapuera e eu tive uma síncope rara.
Eu geralmente choro de emoção (canceriana ela) em canções tristes e lentas e nos show me peguei chorando litros e olhando pro céu num groove agitado e dançante.
Pensei: quero comunicar assim. Chega de fazer a diva depressão.

As composições do álbum vão de momentos reflexivos e meio políticos, até momentos mais descontraídos. Como foi o processo de composição das faixas?
DM: “Muderno” já existia desde muito antes, ela nasceu porque:
- E aí Diego, o que cê tem feito?
- Ah, tenho olhado muito pro céu...
- Como assim?
- É que eu ando de ônibus...
Não sou compositor de todas as músicas, mas a reunião do repertório e dessa ideia de lançar o #ÉqueEuAndodeÔnibus, nasceu de uma fossa.
Terminei o namoro com um boy que ainda tava meio no armário e eu, egoisticamente não tive paciência de esperar tanto tempo pra poder abraça-lo em público, então rompemos de uma maneira trágica no show da Amy Winehouse, em São Paulo, quando o quis abraça-lo e ele se afastou porque sei lá, estava com vergonha que alguém visse.
Fiquei uns 2 anos em depressão porque eu o agredi e o pedi pra que sumisse da minha vida porque nunca me sentia perdoado por isso, por não ter sido paciente... De certa forma até hoje não me perdoo... 
Então eu voltei a morar com minha mãe e a primeira música que ouvi e que me vestiu nessa época foi “A última”, da Fernanda Dias e Nando Freitas. Eu acho que devo ter ouvido essa música todos os dias por 1 ano inteiro. Ela tinha uma levada 4/4 mas na minha cabeça, quando eu a cantava eu a cantava em 6/8, que é a levada do Blues.
Daí os arranjos de metais pra essa música começaram a surgir na minha cabeça... muito cromatismo e dramaticidade nos metais graves...
Quando eu tinha febres durante o período em que estive meio deprê... eu ouvia um sax barítono e trombone tocando na minha cabeça por dias e dias...
Daí as outras músicas foram aparecendo muito por conta dessa fossa e não só dessa, por conta de eu estar abrindo mais os olhos e me deparando como realmente funciona o sistema fonográfico e quais são as reais prioridades que isso envolve.
Saí da gravadora que eu estava e voltei a ser independente.
Recomecei.
Daí, eu tava bem deprê morando com minha mãe, mas fazendo shows pelo país foi quando Caio Prado me convidou pra morar com ele no Rio de Janeiro e Daniel Chaudon vivia lá em casa, e conhecemos a música Não Recomendado de Caio...
Foi quando senti pela primeira vez que eu poderia gritar de volta para as pessoas que abaixavam os vidros dos carros e gritavam nas ruas pra mim em Piracicaba :
- Vai cortar esse cabelo seu preto VIADO ! VIAAAAADO
Agora também estou gritando, só que cantando.

Fala um pouco sobre o conceito do álbum e da escolha do título “É que eu ando de ônibus”?
DM: Sem conceitos... rs
#ÉqueEuandodeÔnibus , o nome do álbum é uma frase do single “Muderno” e é de uma fase em que me vi em um processo de meditação involuntária dentro do ônibus quando ia pro trabalho e obrigatoriamente acabava fazendo terapia ouvindo os problemas e felicidades das pessoas num coletivo.

A faixa “Muderno” já é – e com muita razão – um hit. Qual foi a sensação?
DM:Todos os dias recebo mensagens de pessoas que se sentem representadas com a música ... me arrepio porque nunca pensei que um dia eu pudesse parar de cantar a música no palco e o público continuar a letra toda.
É uma vitória uma letra triste e política ser cantada, dançada e interpretada por tanta gente...
Não sei nem o que dizer... eu só choro...sou de câncer, rs

Tanto a faixa “Não Recomendado” quanto o trio do qual você faz parte, o “Não Recomendados”, são extremamente poderosos na mensagem contra a homofobia. Qual a importância do posicionamento da música em uma questão tão importante quanto o combate a homofobia atualmente?
DM: Estamos em transformação.
Mas poderíamos já ter passado por isso há muito.
A música, o músico, a cantora, o cantor tem muito poder na formação de pensamento político de uma sociedade.
Antigamente a maioria dos artistas (exceto as trans) pensavam que falar sobre a sua sexualidade ou revelar ao público que era Gay, ou Lésbica, ou Bissexual, não importava “porque o que importava mesmo era a arte”.
Esse ficar dentro do armário dos artistas de outras gerações contribuiu muito para o preconceito.
O caos político e a internet atualmente estão desvelando o preconceito das pessoas das outras gerações e da atual, e os preconceituosos veem nas redes sociais um lugar pra (o que pra eles é “expor opiniões”) destilarem a homofobia, o preconceito e o preconceito estrutural.
Isso gera o caos e o debate.
E apesar de estarmos a mil anos luz de um mundo ideal, todo esse caos político gerou o debate contra o preconceito, nas redes sociais, nos bares e nas artes.
A minha existência Gay, Cis, Negra e Artista não deveria ser, mas é política.

Os companheiros de “Não Recomendados”, Daniel Chaudon e Caio Prado participaram do seu álbum?
DM: Sim, como compositores.
Daniel e eu compusemos “Quem Dera”, e além de “Não Recomendado”, Caio e eu, em” O que restou”.  

Pra você, qual foi a faixa mais difícil de compor para o álbum, seja pela letra ou pela produção? E a mais prazerosa, divertida?
DM: Como não sou muito compositor e as minhas música são todas fáceis, prefiro dizer qual foi a mais difícil de cantar que foi Engano.
Não tecnicamente mais difícil, é que quando eu conheci “Engano” eu não parava de chorar nunca mais rsrs. Foi dolorido reconhecer que essa música me veste e me alivia.
A mais divertida com certeza é “Muderno” por motivos obvieis.

Qual mensagem você deseja passar com o seu álbum?
DM:Que vai ficar tudo bem mesmo que você esteja no fundo de um poço ao lado de um crocodilo faminto.

Mande uma mensagem para quem ainda não conhece o seu trabalho:
DM: “Sempre irmãos, sempre unidos, sempre Brasil"

Já existe alguma agenda de shows que você possa divulgar?
22/06 - Jazz nos fundos
20/07 - A Autêntica (BH)
21/07 - Inverno Cultural (MG)
10/08 - Baixo Augusta
15/09 - Sesi Pira
22/09 - Sesi Rio Claro

Então pessoas, fica a dica de mais um artista que vocês precisam conhecer e ouvir. E pra quem ficou curioso - com razão -, vocês podem conferir e acompanhar o trabalho dele em:
Youtube: Diego Moraes
Spotify: Álbum #ÉQueEuAndodeÔnibus
FacebookDiego Moraes
Instagram: Diego Moraes

Muito obrigado a assesoria e ao Diego Moraes por nos ceder essa entrevista incrível. E não deixem de acompanhar o trabalho lindo dele.

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