[Crítica Festival É Tudo Verdade 2022] Ultravioleta e a Gangue das Cuspidoras de Sangue


Sinopse: Uma adolescente desafia a escola, a doença, os médicos e a morte, e abraça todo mundo que encontra, e lidera uma gangue de garotas que também estão doentes, “As Cuspidoras de Sangue”.

O que achei? Dirigido por Robin Hunzinger e lançado em 2021, o documentário faz parte da seleção do Festival É Tudo Verdade 2022.

A ideia de fazer esse documentário veio quando a mãe do diretor achou cartas e fotos de uma garota chamada Marcelle, após a morte de sua avó. O documentário acompanha a história de amor entre a avó do diretor e Marcelle que foram separadas quando Marcelle foi internada em um sanatório quando descobriu que ela estava doente, onde conhece outras garotas em situações parecidas à dela. A Gangue das Cuspidoras de Sangue é formada e o nome é referente à tuberculose, doença que era tratada nesses sanatórios no século XIX e nas primeiras décadas do século XX.

Toda a história do documentário é contada a partir dessas cartas, lidas na íntegra por uma narração intimista, juntamente com fotos da avó de Hunzinger quando ela era jovem e diversas imagens de arquivo e cenas de filmes antigos que as cartas foram escritas para dar um contexto à história de Emma (a avó do diretor), Marcelle e suas cartas. 
 
 
Ultravioleta e a Gangue das Cuspidoras de Sangue tem como questão principal a efemeridade da vida aos olhos de uma jovem que, no auge da sua vida, se viu com uma doença onde as pessoas que a contraíam tinham poucas chances de sobreviver a ela naquela época.

Essa efemeridade tem como contraponto a memória que as pessoas que a conheceram tem das pessoas que se foram. Marcelle é ressuscitada de uma certa forma quando suas cartas são descobertas e sua história é contada, garantindo assim também que Emma também seja relembrada, contribuindo assim para a aceitação de sua morte por parte de Hunzinger e sua mãe.

O documentário mostra uma Marcelle que encara de frente não apenas a doença e a morte como também a sociedade da época e seus costumes, suas instituições conservadoras. O sanatório acaba sendo um lugar de fuga disso tudo, onde Marcelle pode ser ela mesma, onde ela encontrou um lugar ao qual pertence, junto à jovens mulheres que passavam pelas mesmas experiências que ela no sanatório.
 

O documentário – de uma certa forma – é uma celebração à vida a partir do ponto de vista de uma jovem que abraçou o mundo, mesmo estando confinada em um hospital. Apesar de sua situação, em nenhum momento se vê melancolia ou desesperança nas palavras de Marcelle. É uma obra bela de homenagem à duas mulheres que serão lembradas enquanto essas cartas e esse documentário existirem. 
 
Trailer:
 

 Escrito por Michelle Araújo Silva



 

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