[Crítica Festival É Tudo Verdade 2022] O Processo – Praga 1952

 
Sinopse: Em 2018, foram encontradas imagens filmadas de um processo, no qual, catorze dignitários comunistas foram acusados de crimes imaginários e tiveram que fazer uma confissão pública de culpa em um julgamento encenado, em 1952.

O que achei? O Processo – Praga 1952, lançado em 2021 e dirigido por Ruth Zylberman, faz parte da seleção de documentários do Festival É Tudo Verdade 2022.

O nome do documentário é bem apto à história que conta. O Processo é uma obra de Franz Kafka, onde o protagonista é processado por um crime não especificado por uma instituição judiciária autoritária e burocrática.

Assim como a obra de Kafka, a situação em que os 14 comunistas – sendo a maior parte deles, judeus – passam ao serem julgados por crimes que não cometeram, é bem claustrofóbica e inevitável. 
 

O documentário conta com imagens de acervo encontrado em Praga no ano de 2018. Nessas imagens, temos o contexto desse julgamento. O processo Slansky, como foi chamado, foi construído em acusações falsas, confissões públicas feitas após os quatorze comunistas serem torturados e terem suas famílias ameaçadas.

Depoimentos dos descendentes de alguns desses acusados é uma adição interessante ao documentário, onde vemos o lado humano deles, quem eles eram além das falsas acusações feitas contra eles e as memórias que seus descendentes guardam deles. 
 

O Processo – Praga 1952 concentra mais em três desses condenados, que foram homens em posições importantes de poder durante a ditadura de Stalin e que foram perseguidos pelo próprio regime que fizeram parte e ajudaram a dar forma.

O filme é bem didático sobre um evento da história da antiga União Soviética – ocorrido na Tchecoslováquia (terra natal de Kafka) que não é muito conhecido do público em geral, mas que deixa o espectador bem incomodado e desconfortável com o poder da máquina de um Estado autoritário e com a situação sem saída que os quatorze condenados foram colocados, onde não importa quais crime eles foram acusados, forçados a confessar e condenados (alguns à prisão perpétua, outros à pena de morte) em julgamento encenado.

O documentário se encerra mostrando o túmulo de Franz Kafka, ligando o tema em comum de sua obra e o documentário. 
 
Escrito por Michelle Araújo Silva



 
 

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