[News]Jocy de Oliveira relança seu primeiro LP pelo selo Discos Nada

Jocy de Oliveira relança seu primeiro LP pelo selo Discos Nada 

 

Primeira mulher a ter uma ópera encenada no Theatro Municipal, compositora explora limites da canção popular em “A Música Século XX de Jocy” (1959)  



 



 

A compositora, autora e pianista Jocy de Oliveira, pioneira em música eletrônica no Brasil e primeira mulher a ter uma ópera encenada no Theatro Municipal, vai relançar o disco "A Música Século XX de Jocy”. O álbum é o marco inicial da discografia da compositora, lançado originalmente em 1959. Então com 22 anos, Jocy já era uma pianista reconhecida, tendo sido solista na Orquestra Sinfônica Brasileira e se apresentado na Europa e nos Estados Unidos. O disco foi sua única obra no campo da música popular, com estilo inovador e experimental que seria marcante ao longo de suas mais de seis décadas de carreira. O LP será disponibilizado pela Discos Nada, sub-selo da Nada Nada Discos, de Mateus Mondini, dedicado a reedições da música experimental brasileira e resgate de clássicos em vinil.  

 

Em “A Música Século XX de Jocy” a compositora apresenta um estilo em que o plano melódico independe do ritmo e de sua harmonização. A obra valoriza o samba com uma dialética simples e original, criando um novo ritmo para a música, o samba de vanguarda. O LP apresenta 13 canções compostas e interpretadas pela mesma mulher, fato ainda raro tendo em vista a desigualdade de gênero no Brasil. O disco foi lançado em meio à revolução da música popular no país: no mesmo ano, veio a público o álbum “Chega de Saudade”, de João Gilberto. Inserido em um contexto de transformações, o álbum de Jocy destaca-se por inovações estéticas e por uma poética transgressora, com uma temática que permanece atual mesmo 62 anos depois.  

 

O escritor modernista Menotti del Picchia, imortal da Academia Brasileira de Letras, enaltece o modo como a obra subverte os limites dos ritmos nacionais: “Sobre um texto que cruza palavras com notas, [Jocy] realiza surpresas de ritmos e de harmonização (...) numa invenção artística que nos surpreende pela novidade que contém. A intelectual erudita integra-se no realismo do cotidiano procurando surpreender o acontecimento, a reação popular, na palpitação do seu flagrante, aprisionando-o pela palavra a pelo som, o que resulta numa criação artística originalíssima”, escreve na contracapa do LP.   

“Quem, nessa época, pensaria em ouvir uma variante erudita da bossa nova tratando de temas como suicídio, assalto, assassinato, solidão, perda total de bens em incêndios e morte?”, relembra o músico Paulo Beto no encarte do disco. “No período da plena efervescência da bossa nova, aos 22 anos, a compositora cria uma série de canções já contestando os ideais poéticos do estilo (...). A preocupação com os rumos do ser humano no planeta sempre foi e continua presente na obra de Jocy, e certamente o papel da mulher na nossa sociedade estruturalmente patriarcal é de seus temas mais caros”.  

 

Em 1961, Jocy apresentou com Luciano Berio a primeira audição de música eletrônica no Brasil com “Apague Meu Spotlight”, interpretada por Fernanda Montenegro e Sergio Britto. Com “Fata Morgana” (1994) tornou-se a primeira mulher a ter uma ópera encenada no Theatro Municipal de São Paulo. Em 2020, lançou o premiado filme “Liquid Voices – A História de Mathilda Segalescu”, sua nona ópera. Em 2015, conquistou o prêmio Jabuti e teve obras publicadas no Brasil, Estados Unidos, França e Suíça.  

 

Sobre Jocy de Oliveira 

Compositora, autora, pianista, artista multimídia e cineasta, Jocy é pioneira de um trabalho multimídia no Brasil envolvendo música, teatro, textos, instalações, vídeo, cinema. Concebeu e dirigiu inúmeros vídeos, compôs, roteirizou e dirigiu suas nove óperas apresentadas em diferentes países distribuídas em DVDs pelo selo internacional NAXOS. Como compositora e pianista gravou 25 discos no Brasil, Inglaterra, EUA, Alemanha, Itália e no México e teve a honra de ser solista sob a direção de Stravinsky e ter executado primeiras audições de Luciano Berio, John Cage, I Xenakis, Claudio Santoro, além de ter gravado a obra pianística de Messiaen. (Selo NAXOS).  

Autora de seis livros publicados no Brasil, USA e França, seu livro “Diálogo com cartas”, Edições SESI SP, recebeu o Prêmio Jabuti, e teve uma edição francesa pela Honoré Champion, Paris.   

Foi homenageada juntamente com Fernanda Montenegro pela FLIP 2018 em Parati participando entre os autores principais do festival.  

Premiada pela Guggenheim Foundation, Rockefeller Foundation entre outros, recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela UFRJ, Rio de Janeiro, membro da Academia Brasileira de Música e Mestre em Artes pela Washington University St Louis, USA  

Em 2017/2019 escreveu o roteiro, compôs a música e dirigiu seu filme de longa metragem “Liquid voices – A história de Mathilda Segalescu” concebido, simultaneamente, numa linguagem teatral / cinemática. A ópera multimídia para teatro estreou no SESC São Paulo e a ópera cinemática (um filme de longa-metragem) estreou em 2019 no London International Film Festival sendo premiado por Melhor Desenho de Som.  

Em 2020 lançou em straming a ópera cinemática “Liquid Voices – A história de Mathilda Segalescu” e o livro “Além do Roteiro”. www.jocydeoliveira.com / www.youtube.com/jocydeoliveira 

 

Sobre Discos Nada 

Sub-selo da Nada Nada Discos, projeto de Mateus Mondini, a Discos Nada é dedicada a reedições da música experimental brasileira em vinil. O primeiro lançamento do selo foi “Persona”, trilha de “Jogo das Mutações”, composta por Luiz Carlini, em 1975, para ser parte do múltiplo de arte do artista plástico Roberto Campadello. Ainda este ano, além do primeiro disco da Jocy de Oliveira "A Música Século XX”, de 1959, e “Raga na Amazônia", uma coletânea com obras eletroacústicas que Jocy compôs nos anos 1980 e 1990, também entrarão para o catálogo dois LPs de Alcides Neves, "Fragmentos da Casa", de Marco Bosco, e “Ou Não”, de Walter Franco. 

A Nada Nada Discos foi fundada em 2009 e permanece focada em lançar bandas contemporâneas como Rakta e Deafkids, assim como reeditar clássicos e discos perdidos de bandas do Punk e Pós-Punk nacional como Mercenárias, Ratos de Porão, Fellini, Cólera, Inocentes e Replicantes.  

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