[News]Livros clássicos são encontrados em lixeira e autor nacional escreve sobre

Livros clássicos são encontrados em lixeira e autor nacional escreve sobre


Maurizio Ruzzi publicou um texto sobre os livros que resgatou do lixo


 

É, foi uma longa jornada. Começou com rabiscos em pedra, papiro, pergaminhos... Passou por um cara chamado Gutenberg, sabia das coisas, o rapaz. Mas vai acabar no lixo.”

Maurizio Ruzzi se indignou ao encontrar livros da literatura clássica, em ótimo estado, na lixeira. O autor de “13 vítimas da política brasileira”, “Quarentena: Contos Isolados” e “Contos do Machado” escreveu sobre o caso em seu site. Confira:

#LIVROLIXO

A imagem desse post mostra uma pilha de livros (ao lado de um ser humano meramente ilustrativo, inserido para propósitos de escala), que têm entre si pelos menos três coisas em comum:

Primeiro, estão todos, no mínimo, num estado razoável de conservação, perfeitamente legíveis.

Segundo, são todos bons livros. Mais da metade de uma coleção de obras completas de Machado de Assis, três exemplares da coleção "Os Pensadores" (Platão, Aristóteles e Hegel), uma edição da Dover de "Looking Backward", de Edward Bellamy, uma edição da Longman de "The Invisible Man", de H.G. Wells, e um exemplar de "Kafka on the Shore", de Haruki Murakami.

Além disto, eu achei todos no lixo.

Sim, no lixo. Não separados num canto para doação, não numa caixa debaixo de uma escada. No LIXO. Junto com sacos de lixo, com restos de comida, excrementos de cachorro e o que mais um ser humano é capaz de produzir para jogar fora. Encontrei-os em três oportunidades diferentes. Em outras duas vezes encontrei livros no lixo, mas não pude salvá-los. Em uma delas eu não tinha como carregá-los, e na outra eles estavam sujos o suficiente para acionar meu instinto de auto-preservação, ou de higiene (e ambos não são lá essas coisas). Cinco eventos. Não é coincidência.

Que o mundo mudou eu sei. Que existem outras formas de transmitir e guardar informação, eu também sei. Você pode pensar que, ei, talvez tenha edições demais de Platão no mundo. Talvez já tenham impresso mais de 7 bilhões de Platões (foi só para rimar), e está na hora de começar a se livrar de alguns deles. Talvez o mundo realmente tenha livros demais.

Bem, e por que diabos as pessoas são tão burras?

Eu escrevo, raios! Adoro a ideia de publicar um livro. Mas é preciso saber que o lixo é uma das possibilidades para meus escritos. Isto sem dúvida dá outra perspectiva a ideia de escrever. Infelizmente ainda não encontrei no lixo nenhum livro de meu autor predileto, por que aí eu teria o conforto de pensar que ficarei na melhor companhia possível, com minhas linhas decompondo-se na escura podridão do dejeto humano doméstico.

Não consigo parar de pensar no processo que leva alguém a jogar livros no lixo. Talvez tenha uma boa explicação, talvez alguém apontou uma arma para a cabeça do cidadão e disse: "joga no lixo, playboy!".

Que existem livros que são um lixo, disso não discordo. Merecem ser jogados no lixo? Talvez. No lixo da história, sem dúvida. Mas jogar um livro, um livro de verdade, no lixo, é algo que está num patamar que não consigo, ou melhor, não quero chegar. Sei muito bem que editoras frequentemente acabam por dar fim a muitos e muitos exemplares de livros encalhados. Mas isto eu ainda consigo encarar como uma faceta desagradável do processo industrial. Esses livros, esses da foto, não. Esses alguém pegou na mão e resolveu jogar no lixo, como um panfleto de propaganda que você recebe numa esquina e já esqueceu na outra.

Eu fico na dúvida se prefiro saber que um livro foi queimado, ou que foi jogado no lixo. O fogo tem pelo menos uma dose de dignidade. Queimar livros, claro, reflete em geral ódio e ignorância. Jogar livros no lixo, em princípio, só ignorância. Mas ignorância dificilmente vem sozinha.

É, foi uma longa jornada. Começou com rabiscos em pedra, papiro, pergaminhos... Passou por um cara chamado Gutenberg, sabia das coisas, o rapaz. Mas vai acabar no lixo.

Não, vão dizer alguns... é a evolução, as ideias estão mais rápidas, a linguagem evolui, a dinâmica é outra. A dinâmica é muito mais... hmmmm, dinâmica. Ah, é? Puxa vida. Então é a isto que tenho que aspirar agora, por milhares de olhos ansiosos e dedos apressados esperando para multiplicar meus últimos tweets?

Nah. Prefiro o lixo.

 

Sobre o autor: Cão miserável, verme rastejante, mentiroso, maldito, descendente de uma raça de ladrões e rameiras, sangue marcado por todas as pragas e todas as maldições. Má companhia, azedo como o vinagre de uvas crescidas na lama pútrida de um cemitério pagão. Vaga por essa terra urrando suas calúnias imundas, e se há justiça no mundo ele deve ser banido de toda vila, povoado ou cidade onde tentar fixar seu lamentável esqueleto.

Por algum motivo impossível de se compreender, dado que os desígnios dos deuses fogem à compreensão do espírito humano, é cercado de boa gente: mulher, família, amigos, parceiros e comparsas. Pessoas de fibra, caráter, com história e queixos erguidos mais por coragem do que por orgulho. A sombra de tais pessoas é a única coisa digna que pode ser vista neste homem.

 

Sinopse "Quarentena - Contos Isolados”: Tantas vezes foi dito que a ficção imita a vida, e também que a vida imita a ficção. Quem imita quem? É tão difícil responder essa pergunta como é responder “quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?” A vida sempre cria novas situações, aparentemente impossíveis e impensáveis. Mas quanto disso é consequência da ação de pessoas que, sabendo ou não, agem sob o efeito da literatura? Porque a maneira como elas veem o mundo ̶ a própria estrutura de suas ideias ̶ veio da literatura, como a história do lobo mau que viram quando criança e o filme de ficção que recentemente as deixou boquiabertas no cinema (ou na Netflix!). Esse ciclo corre solto, sem parar, vida e ficção, ovo e galinha, um nascendo do outro, eternamente.

“Quarentena – Contos Isolados” é um novo elo nesse ciclo, 13 contos inéditos que conversam com a ficção científica e a crônica, surgidos assim que a vida acabou de fazer uma curva inesperada. "...Só que nós não contamos com a capacidade que as pessoas têm de corromper as coisas. As pessoas corrompem tudo, as pessoas corrompem a morte. Diabos, as pessoas corrompem até o capitalismo."

 

Sinopse “Contos do Machado”: Abre este livro, leitor. Abre-o, e vê seu conteúdo. Não apenas olhes, mas vê...O que vais ver ao abri-lo? Histórias contadas com palavras e imagens, páginas compostas para serem tão apreciadas como lidas. Histórias passadas num tempo já ido, histórias por vezes manchadas de sangue, histórias de vida e de morte, de início, de fim e recomeço. Contos entrelaçados como elos de uma corrente, que tentam responder a uma questão simples: terão já sido escritos todos os livros?Com "Contos do machado" queremos dizer, queremos gritar que não, não! Muitos livros ainda podem ser escritos, muitas histórias podem ser contadas. Abre este livro, leitor, é o convite que te fazemos. Ou melhor, é um desafio, feito olhando no fundo de teus olhos, feito com toda a tensão que pode existir entre autor e leitor, com todas as expectativas, desgostos e surpresas que esta relação pode trazer. Mas, sobretudo, feito estritamente dentro do código de honra da literatura: todos os golpes serão no coração.

 

Sinopse 13 Vítimas da Política Brasileira: é um livro de contos baseado nas eleições presidenciais brasileiras de 2018. Os contos descrevem e/ou exploram uma realidade alternativa na qual cada um dos 13 candidatos sagra-se vencedor do pleito. O livro não pretende defender nenhuma orientação ideológica. Quer apenas trazer estas ideias e ideologias para o centro do palco, iluminá-las com a luz da literatura e fazê-las dançar ao som das palmas de seus seguidores.

Bons conhecedores das personalidades dos candidatos vão perceber que nada além da ponta do iceberg de suas imagens públicas foi explorado. Os contos não tem como objetivo explorar os candidatos em si, afinal eles não são nunca o tema de fundo. Importantes sem dúvida, mas , ainda assim, são só personagens. Talvez esta seja uma boa caricatura da política brasileira: uma política de personagens, que manipulam ideias como se fossem marionetes. Uma política saudável seria justamente o contrário, uma política onde são as ideias que manipulam as personagens. Talvez haja um pouco disso no mundo subjacente a estes contos, como uma espécie de tempero utópico. Talvez haja mais disso no livro do que o autor imaginou ou desejou a princípio. Mas isso não seria um problema. Afinal, este é um livro de ficção.

 

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