[News] Vozes de mulheres do passado e do presente revelam o autoritarismo de suas épocas em O Plantio das Palavras

 




Estreia no dia 27 de abril, terça-feira, 18h30, pelo Youtube do Canal Infinito Ontem, O Plantio das Palavras, espetáculo audiovisual inédito com texto e direção de  Denizart Fazio. No elenco, estão Emilie Becker e Janaína Mello. A peça-filme, criada com recursos do ProAC Expresso Lab - Aldir Blanc, se passa em dois momentos distintos: 1964, ditadura civil-militar brasileira, e 2021 - no dia exato em que a peça está sendo exibida.

 

O Plantio das Palavras é o desdobramento de um trabalho maior cuja pesquisa foi iniciada antes da pandemia do novo coronavírus, chamado Infinito Ontem - projeto que será montado presencialmente quando for possível cessar o período de distanciamento social. Denizart Fazio, diretor e autor de O Plantio das Palavras, conta que a base desse trabalho é a discussão sobre mulheres que dedicaram suas vidas na luta contra a ditadura civil-militar brasileira.

 

Na obra, uma mulher acorda de um pesadelo que anuncia acontecimentos do passado próximos à sua realidade. Nele, a sociedade está tomada por forças teocráticas e conservadoras que se aproximam cada vez mais dos militares. A narração de seu sonho se alterna com cenas do passado que revelam informações sobre a antiga inquilina dessa mesma casa - uma militante oposta à ditadura que escrevia cartas e poemas sobre seu tempo, entre as quais constam planos para uma revolução capaz de desarmar as forças do regime militar.

 

O encontro dessas cartas, escondidas no assoalho, e características do momento atual do país sustentam a narrativa. "A gravação tem trechos em plano-sequência feitos com muitos cuidados cinematográficos, mas o tom é teatral", adianta Denizart. "A câmera que acompanha essas mulheres é o ponto de vista de uma pessoa a quem elas estão sempre se dirigindo. Esse olhar testemunhal, que não sabemos exatamente de quem se trata, pode ser lido como o olhar do público ou com o próprio passado", complementa.

 

O trabalho traz a ideia de distância temporal e simultaneidade de lutas, o que revela uma pluralidade discursiva dessas personagens. O procedimento dramatúrgico de habitação de muitas vozes em uma mesma personagem é um traço da dramaturgia de Denizart Fazio que está no cerne do espetáculo. A gravação, feita em um casarão de 130 anos no bairro da Bela Vista (São Paulo - SP), reforça a ideia dessa distância temporal que separa as duas mulheres.

 

Luiz Fernando Marques (Lubi), diretor do Grupo XIX de Teatro, trabalhou como orientador cênico de O Plantio das Palavras. Segundo o artista, que testemunhou a criação do projeto desde sua concepção, a adaptação do trabalho anterior para o formato audiovisual tem texturas e sonoridades que geram estranhamento ao espectador. "O trabalho tem um lugar imagético muito forte em que é possível ver o que vai sendo desenterrado", diz Lubi.

 

O diretor complementa que O Plantio das Palavras também trabalha muito com a ideia de um eco do passado que vai se tornando, aos poucos, uma voz grossa e autoritária. "Mesmo sendo um desdobramento de Infinito Ontem, essa obra ganhou inteireza, uma independência do texto original. É uma história desagradável, inevitavelmente familiar", finaliza.

 

Sinopse

Duas mulheres que vivem em momentos específicos da história brasileira (1964 e 2021), separadas por mais de cinquenta anos, veem-se em situações muito similares: o enfrentamento à repressão política. Em 2021, uma mulher encontra um conjunto de cartas no assoalho de sua casa, cartas de militantes contra a repressão militar em 64, e passa a investigar um suposto grupo de sabotagem a prédios ligado à repressão chamado O plantio das palavras.

 

Trecho da peça

Muitas pessoas estavam assistindo, como se fosse um culto.

A cada palavra, não dá para dizer que eram palavras, mas a cada coisa que saía das bocas daqueles homens, elas levantavam as mãos.

Aleluia.

A cada salva de tiros.

Lembro de ter pensado ou dito que eles deviam achar que aquilo era a salvação.

Os tiros.

Porque as balas atingiam algumas pessoas e eu via elas caindo sangrando, mas ninguém parecia sentir qualquer coisa. Ninguém percebia. Ou se importava, não sei

Tinha muito sangue.

 

Ficha técnica

Dramaturgia e direção: Denizart Fazio

Provocador cênico: Luiz Fernando Marques (Lubi)

Elenco: Emilie Becker e Janaína Mello

Cenografia e figurino: Fábio Luiz de Jesus

Desenho de luz: Rafaela Romitelli e Tereza Nardes

Direção musical e operação de plataforma de streaming: Ivan Alves

Captação de imagens: Cassio Rothschild, Lucas Gervilla e Tereza Nardes.

Edição: Cassio Rothschild (Trim Produções)

 

Serviço

Transmissão online pelo Youtube - Canal Infinito Ontem

Dias 27, 28, 29 e 30 de abril, com exibições às 18h30 e 20h.

Duração: 50 minutos

Classificação: 10 anos





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