[Crítica] A cidade dos sonhos

 

Sinopse:

Um vívido, e muitas vezes cômico, retrato de um vendedor de rua idoso, tenaz e turrão em uma contenda com funcionários públicos de Wuhan, maior cidade da região central da China.






O quê eu achei?

Dirigido pelo chinês Cheng Shi Meng,A cidade dos sonhos (pesquisando sobre ele na Internet descobri que uma tradução mais literal do título mandarim original seria algo como O Sonho Urbano) A cidade dos sonhos é um projeto corajoso pelo fato do diretor ter tido a audácia de expor uma situação verídica que demonstra dois lados da moeda.

Wang Tiancheng era um feirante de frutas e roupas que se muda para Wuhan (sim, a mesma cidade onde a pandemia do coronavírus teve início) no centro da China e sua banca ocupada a maior parte da calçada pública, o que viola as leis do bairro, que se encontra em fase de modernização para a implementação de uma rua inteira composta por joalherias.Os inspetores do setor de urbanismo municipal são convocados para tentar resolver a situação e eles tentam fazer com que Wang se mude mas é claro que não obtém sucesso. Ele é um homem extremamente determinado e teimoso. Segue-se um impasse porque os ficais não tem autoridade para prender Wang e sua família e eles não tem condições de irem para outro lugar.

É fácil perceber a crítica entre as baixas e altas esferas de poder da sociedade. A partir dessa questão central, se ramificam temas delicados como a relação entre o cidadão com o Estado, os direitos públicos vs os privados...  O problema é que cada lado seria justificável dependendo do ponto de vista: não demoramos a descobrir que a esposa de Wang tinha câncer, seu filho era deficiente,sua filha estava tendo problemas na escola, etc. Não pense que a vida dele era fácil. Eles ganhavam seu pão de cada dia de forma honesta vendendo há mais de uma década.Por outro lado, eles não pagavam aluguel como os demais e ofereciam uma concorrência desleal.Mas o documentário realiza a façanha de ser neutro o tempo todo, não defende nenhum dos lados.Vemos a violência com que Wang arranca a câmera do repórter para arrancar sua foto, sua agressão e até tentativas de suicídio.

O caso é acompanhado com maestria e o espectador vê que nem é tudo é lástima: o diretor nos brinda com cenas felizes como a sopa que esfria enquanto é levada para a esposa doente, quando Wang cobra as notas de matemática da filha, as brincadeiras com o cachorro da família e por aí vai. O filme mostra famílias como a de Wang não como vítimas de um sistema opressor mas sim como resultado de um sistema cujo mecanismo vai além de suas vontades e especificidades.

Achei A cidade dos sonhos uma experiência cinematográfica interessante e pretendo assistir mais do diretor.

                             Trailer:





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