[Resenha] Bruxa Akata

Sinopse: Sunny tem 12 anos e sempre viveu na fronteira entre dois mundos. Filha de nigerianos, nasceu nos Estados Unidos; suas feições são africanas e é albina. Uma pária, incapaz de passar despercebida. O sol é seu inimigo. Castiga a pele delicada e a expõe aos olhares curiosos. Parece não haver lugar onde ela se encaixe. É sob a lua que a menina se solta, jogando futebol com os irmãos.
E então ela descobre algo incrível – na realidade, ela é uma pessoa-leopardo em um mundo de ovelhas. Sunny é alguém com um talento mágico latente. Mais que isso: é uma agente livre. Uma pessoa com poderes, mas que nasceu de pais comuns.
Logo ela se torna parte de um quarteto de estudantes mágicos, pesquisando o visível e o invisível, aprendendo a alterar a realidade, sendo escolhida por um mentor e conseguindo, enfim, sua faca juju — com a qual é capaz de fazer seus feitiços.
Mas isso será suficiente para que encontrem e impeçam um assassino em série que está matando crianças? Um homem perigoso com planos de abrir um portal e invocar o fim do mundo?

O que eu achei?
“Bruxa Akata”, de Nnedi Okorafor é uma fantasia hipnotizante lançada recentemente pela Galera Record. A obra segue uma aventura que aborda todo o misticismo, magia e mistério que cercam a cultura Africana.
Na história, começamos conhecendo Sunny, uma menina albina americana que volta com a família para a Nigéria. Uma visão na chama de uma vela a faz despertar para uma descoberta que irá desvendar muito mais do que sua própria identidade – ela viu o fim do mundo.
A história é repleta de mitologia e misticismo, e seguimos numa jornada de iniciação, em todos os sentidos. O livro em si passa mais tempo nos apresentando ao universo da história e aos seus personagens do que construindo uma trama propriamente dita. Não que isso seja de todo o ruim, pois somos apresentados a todos os conceitos e ensinamentos que precisamos para entender a obra, alem de entendermos e acompanharmos o crescimento dos quatro jovens.
A escrita é extremamente leve e simples, e a leitura pode ser feita muito rapidamente. Alguns poucos nomes podem ser um pouco complicados, e algumas referencias podem escapar durante a leitura, mas em grande maioria, as referencias culturais são explicadas durante a leitura. Os ambientes são ricamente detalhados, e beiram a exuberância. A cultura e os elementos típicos da região são explorados de forma maravilhosa.
As personagens ainda me parecem carecer de um pouco mais de refinamento, ainda mais os adultos. Os jovens estão entre 12 e 16 anos, então a forma como são retratados – diálogos, atitudes, etc – são até aceitáveis em dado momentos, visto que, principalmente Sunny, nossa protagonista, está em processo de autodescoberta e amadurecimento. As outras crianças são um pouco mais bem trabalhadas em suas personalidades, cada uma com suas características únicas muito bem exploradas, mas para mim faltou uma linha mais concreta na personalidade deles, uma vez que pareciam oscilar de mentalidade extremamente madura para extremamente juvenis. Até mesmo os adultos, às vezes, não passavam um ar maduro em seus comportamentos e diálogos. Mas, ainda assim, é possível curtir alguns momentos entre eles.
Enquanto Sunny descobre o segredo de quem ela é, ela ainda terá que lidar com o peso de seu destino e os mistérios de seus antepassados, em busca não só de seu lugar, mas também enfrentar inimigos inimagináveis. A tensão da história fica por conta de um serial-killer que sequestra e mata crianças de forma ritualística, mas que infelizmente não foi muito bem explorado neste livro.
O livro possui continuação, e a história deixa brechas para um desenrolar muito mais complexo. Então acredito que nesse ponto final, sobre os inimigos e os perigos do fim do mundo serão mais aprofundados.
“Bruxa Akata” foi um início interessante de uma aventura que, ao meu ver, promete ser muito boa. Somos apresentados de forma linda e respeitosa a mitologias que desde sempre são ignoradas pelo grande público, em uma história que aborda amizade, aceitação e força – com uma boa dose de representatividade e emponderamento feminino. E atrevo-me a dizer: não é o Harry Potter nigeriano. É Akata! Única!
A continuação deste livro, "Akata Warrior" (Guerreira Akata, em tradução livre) tem previsão de lançamento aqui no Brasil para o primeiro semestre de 2019, segundo a Galera Record.

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