[News] Diogo Nogueira lança o EP "Meu Instinto", com quatro canções inéditas da nova geração de compositores de samba

Diogo Nogueira está embolado no meio de diversas gerações, de uma forma rara na música popular brasileira. Nas plateias de seus shows convivem dois tipos de público: os fãs herdados do pai, João Nogueira, que com seus fios brancos vão ao delírio na interpretação de “Poder da Criação”, e os jovens, piercing no umbigo ou no nariz, que não têm ideia do que foi o Clube do Samba, mas cantam “Clareou” e “Tô Fazendo a Minha Parte” de olhinhos fechados e mãos pra cima. A convivência intergeracional é pacífica como em poucos lugares, tribos unidas por um objetivo comum: ouvir samba de qualidade, celebrar a boa música brasileira, sacudir o esqueleto ao som de um pandeiro, um cavaco e um tamborim – em comunhão que faz parte do DNA nacional há mais de cem anos.

            Diogo se orgulha do alcance de sua música, mas não permanece estático; busca o movimento, não se conforma em ficar agarrado cegamente aos públicos que seguem seus passos. Não fica preso ao passado, deitado no berço esplêndido do sobrenome – embora reverencie como poucos a tradição do samba. Nem está focado em dar apenas o que seus atuais seguidores querem, procurando repetir o que já foi sucesso – embora esteja atento às tendências da modernidade. Entre o passado e o presente, Diogo escolhe o futuro, e é pra frente que olha quando escolhe lançar um trabalho com músicas inéditas, apostando na nova geração de compositores de samba e numa sonoridade que conversa com seu tempo.

            Essa marca já havia sido percebida em seu último álbum, o irretocável “Munduê”, CD autoral lançado em 2017, que arrebanhou uma série de críticas positivas e rendeu sua nona indicação ao Grammy Latino. E agora está de volta no EP “Meu Instinto”, que chega às plataformas digitais em 25 de outubro, sexta, produzidos por Rafael dos Anjos e Alessandro Cardozo, os mesmos do elogiado álbum “Munduê”. São quatro canções, todas elas dialogando com a embolada de referências que formam o artista Diogo Nogueira, dando um passo à frente numa carreira que começou 12 anos atrás e que nunca ficou parada no mesmo lugar.

            A inquietude de Diogo pode ser percebida antes mesmo do play que dá vida às músicas. Este é o primeiro trabalho independente do cantor e o primeiro lançado no formato EP – uma mostra de que o mercado mudou, e o artista também, se alimentando das ferramentas dos novos tempos para continuar produzindo sua arte.

            E a arte que chega às mãos de seus fãs reflete uma obsessão antiga de Diogo, nítida desde quando ainda engatinhava na carreira: dar voz aos autores contemporâneos de samba. É por isso que todas as músicas do álbum “Meu Instinto” trazem estampadas as assinaturas de poetas da nova geração, aqueles que esbarram com Diogo nos pagodes, nas baladas, nos estádios de futebol, nos terreiros – ou seja, a sua turma, aquela que frequenta o seu quintal.

            A música de trabalho, “Meu Instinto” – já lançada como single à parte no final de setembro - nasceu de um encontro desses, batizado em fonte sagrada para a tropa do samba: uma madrugada interminável, regada a rabada e vinho. Diogo compõe a melodia com Bruno Castro e André Lara e envia para Claudemir, que rabisca a letra. O trio tem pedigree: André é neto de Dona Ivone Lara, Bruno Castro foi o último grande parceiro da Dama do Samba e Claudemir tem no currículo sucessos como “Ogum” e “Ser Humano”. Já o arranjo é assinado pelo craque Jota Moraes. O resultado é uma canção com todos os ingredientes para virar hit, provável sucessora de “Pé na Areia” nas rodas de samba – o refrão-carta-de-drinques lançado por Diogo em 2016 se tornou um dos mais cantados da década nos pagodes Brasil afora.

            O hit-maker Claudemir aparece em outra faixa no EP. Além de “Meu Instinto”, é dele também “Embolaê”, música-chiclete que reforça o conhecido lado romântico de Diogo Nogueira, celebrado pelos fãs aos gritos nos shows. Aqui a parceira de Claudemir é com outros dois craques da composição: Tiêe, que com poucos anos de carreira já tem mais de 200 canções gravadas, e Gusttavo Clarão, poeta de meio de ano e do carnaval carioca, recordista ao vencer por sete anos consecutivos a disputa de samba-enredo da Unidos do Viradouro. O arranjo é de Prateado.

            Se o amor e a sensualidade são marcas do povo brasileiro, Diogo faz questão de incluir outra característica de sua gente no novo trabalho: a fé. “Forte Leão de Judá”, com arranjo também de Prateado, é a mensagem que o cantor passa nesse momento em que o país vive rotina diária de conflitos. A assinatura vem de um amigo de longa data, Inácio Rios, aqui em parceria com Ramon Ramos. De linhagem tradicional, filho do bamba Zé Katimba, fundador da Imperatriz Leopoldinense, Inácio é um dos compositores que mais emplaca inéditas nos álbuns de Diogo, desde o disco de estreia, com “Samba pros Poetas”, até a recente “Vapor de Arerê”.

            Outro contemporâneo que está sempre por perto é João Martins, já com sólida carreira como cantor e compositor nos pagodes cariocas. Ele aparece na faixa “O Pacto”, em parceria com Fred Camacho (compositor já gravado por Zeca, Martinho, Beth e Maria Rita), com um samba djavaneado que joga o astral do álbum lá pra cima, com mais uma assinatura no arranjo de Jota Moraes. E é assim que Diogo Nogueira reafirma o pacto que tem seus fãs: o de estar sempre embolado com a nova geração, apresentando a obra de seus companheiros ao grande público e fazendo o samba caminhar pra frente. No atual cenário do samba, a responsabilidade de dar visibilidade a essa rapaziada está com Diogo. E ele, relembrando os tempos de jogador de futebol, não pensa duas vezes: mata a bola no peito, ajeita e chuta pra gol. Afinal, o craque sabe sempre qual é seu papel dentro de campo.



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