[Resenha] Bonsai & A Vida Privada Das Árvores

Sinopse: Vale a pena ler e escrever livros em um mundo prestes a se quebrar? Essa pergunta ronda as obras de Alejandro Zambra reunidas neste volume, excelente porta de entrada a uma das mais proeminentes e interessantes vozes da literatura hispânica contemporânea.
Entre a seriedade e a hipocrisia, Julio, o protagonista de Bonsai – brilhante estreia narrativa do chileno Alejandro Zambra – acha mais produtivo se encarcerar em seu quarto, sozinho, observando em silêncio o crescimento de um bonsai, que vagar pelos incômodos caminhos da literatura. Segundo o próprio narrador, esta é “uma história leve que se torna pesada”, um relato elíptico e vertiginoso marcado pelo desaparecimento inquietante de uma mulher. Já em A vida privada das árvores, segunda novela do autor e também parte desta edição, Verónica demora a chegar, de forma inexplicável, e o livro segue até que, enfim, Julián se convence de que ela não vai mais voltar.
Jorge Luis Borges aconselhava escrever como se o texto fosse um resumo de uma obra já escrita. E é isso que fez Alejandro Zambra neste livro: da mesma forma que um bonsai não é uma árvore, Bonsai e A vida privada das árvores não são novelas curtas ou contos mais longos, mas sim novelas-resumo ou, justamente, novelas-bonsai.

O que eu achei?
Alejandro Zambra foi um nome que me apareceu por acaso em uma pesquisa por outro livro, também da TusQuets Editores, e que me despertou muito interesse – principalmente depois de uma amiga ler “Bonsai” e garantir que era um livro incrível. E é verdade.

A TusQuets lançou “Bonsai & A Vida Privada Das Árvores”, a reunião das duas primeiras obras de Zambra, e vocês precisam conhecer essas histórias.

“Bonsai” nos conta a história de Julio e Emilia, de forma rápida e objetiva. A escrita precisa de Zambra é o ponto que mais se destaca nesse livro, e torna a leitura um prazer indescritível, como conversar com seu melhor amigo – ou, no caso, ouvi-lo contar uma ótima história. “Bonsai” nos leva a vida de tentativas e experiencias de vida dessas duas pessoas, onde caminhos mudam, gostos mudam, pessoas mudam – algumas, outras não. A história deles – tanto como indivíduos quanto como casal – é quase com criar um bonsai: um cuidado constante, que depende de certa destruição para seguir em frente. Não uma destruição óbvia, de maus-tratos e agressões, mas o “não-lidar” com a vida com seriedade, responsabilidade e maturidade.

Zambra brinca com a continuidade das pessoas e suas identidades como indivíduos que evoluem, ou se estagnam; errantes ou andarilhos seguindo um rumo que nem eles mesmos sabem explicar. Um desaparecimento de si – por si, cada uma das personagens – lento.

Já em “A Vida Privadas das Árvores”, somos apresentados a Julián e Verónica, esta que ainda não retornou para casa após sua aula. E sua ausência, e sua espera de retorno, são preenchidas por relatos da vida de Julián, destrinchando seu passado; nos mostrando os efeitos de sua solidão em meio a um monte de gente e o quanto isso afetou suas escolhas enquanto ele inventa histórias para dormir para Daniela, sua enteada. Mais uma vez o bonsai surge na história, e parece até conversar um pouco com algumas passagens do conto anterior. Mas se no outro, a união era o problema, aqui parece mais que a solidão, ou o fato de não encontrar algum tipo de abrigo emocional, seja o ponto principal. Viajamos pelo passado de Julián e seus medos, e pelo futuro de Daniela e suas escolhas. Enquanto a incerteza do retorno de Verónica permanece, os fatos passados e futuros ganham forma e preenchem o vazio. Nostalgia e esperança para aplacar a angustia.

Seguindo os mesmos parâmetros do conto anterior, aqui a escrita é um pouco mais densa e mais séria. Há um peso não muito definido que vai se desenrolado sobre a história, que também é mais longa e complexa que a anterior.

O que eu mais destacaria no livro como um todo, sem medo, é a escrita de Zambra. Eu não me lembro de já ter lido uma narrativa, por menor que fosse, tão agradável quanto as dele nesse livro. A fluidez é tão orgânica quanto uma conversa, um uma lembrança. E o pragmatismo unido a perspicácia dele torna as historias quase analises psicológicas ou antropológicas. Um ótimo livro para quem gosta de conhecer as minucias do seu humano complexo, bagunçado e meio perdido no mundo e em si.

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