[Crítica Teatral] Grande Sertão Veredas


Sinopse:
Depois de recriar o sertão de João Guimarães Rosa em uma exposição que inaugurou o Museu da Língua Portuguesa, Bia Lessa retoma a obra-prima do autor em montagem inovadora na rotunda. O espetáculoinstalação, com recursos que ampliam a dimensão sonora, apresenta a epopeia do jagunço Riobaldo que atravessa o sertão para combater seu maior inimigo, Hermógenes, seu pacto com o diabo e seu amor por Diadorim. O cenário estará aberto à visitação do público.

O que eu achei?
Intenso, dramático, engraçado e mágico. Bia Lessa não só fez montagem e cenário inovadores, mas, sim, algo profundo que te toca de todas as formas, em cada um dos seus sentimentos. Medo, raiva, excitação e provocação. Uma orquestra não se faz só com maestro, por isso contamos com um elenco de peso, com nomes reconhecidos e outros nem tanto (por mim), mas que me cativaram desde os primeiros movimentos. 

Entendam que aqui não existem atos ou cenas. Existe o texto, os atores e o palco. Existe Guimarães Rosa ali, sem freio, sem paradas, somente indo a 100km por hora. Nós, espectadores, ficamos sentados em 360º com grades (Que você pode interpretar tanto como uma jaula para toda a intensidade que a peça traz, não deixando escapar seus mais selvagens instintos; Ou para nos segurar diante de tanta emoção), fones de ouvidos para escutar uma trilha sonora que te comove desde a sola do pé, até os sotaques e interpretações mais carregados. A montagem e o palco desenvolvido por Bia Lessa só te faz querer entrar cada vez mais na história e explorar cada sentimento que ali é deixado para dar continuidade ao texto. A iluminação te leva aos mais variados locais da obra, fazendo com que viajemos léguas com os cavalos dos jagunços e voltemos no passado de Riobaldo.

O elenco é, simplesmente, fantástico. Temos dez pessoas interpretando mais de 15 personagens, contando com as voltas ao passado e sub tramas que ali se escondem no texto. Os atores são animais, seres humanos e natureza, onde tudo se encontra e se mistura em um delicioso caos. Caio Blat, Luísa Arraes e Leonardo Miggiorin já eram nomes conhecidos por mim e que eu fiquei felicíssimo em encontra-los dentro do caos que é o sertão. A história contada por Riobaldo não carece de informações e de um sotaque mais que carregado, cuspindo palavras que não te fazem parar de refletir como o ser humano é complexo. Isso, claro, respeitando toda a obra de Rosa. 

Foi uma das melhores e únicas experiências que eu tive no teatro e que eu nunca vou esquecer. Analisando e lendo o programa do espetáculo (que fica disponível uma hora antes de começar), você consegue perceber como o texto se encaixa para as nossas situações sociais atuais. Matamos e julgamos por lei própria, sem se preocupar com as vidas que serão afetadas pelos nossos atos. Apesar de Grande Sertão: Veredas falar sobre um passado, ele pode ser muito bem contextualizado com o nosso presente: Quando quase não vemos mais a complexidade do homem. 

A peça fica em exibição até o dia 31 de março, de quarta a domingo, às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O cenário é aberto para visitação.  

Ficha Técnica:
Concepção, direção geral e adaptação: Bia Lessa.
Texto: Guimarães Rosa.
Elenco: Caio Blat, Luíza Lemmertz, Luísa Arraes, Leonardo Miggiorin, Leon Góes, Balbino de Paula, Daniel Passi, Elias de Castro, Lucas Oranmian e Clara Lessa.

 Por Sergio Augusto

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