[Crítica] Caixa Preta

Sinopse:
Uma performance de longa duração com um morto e duas mulheres feridas. O convite foi feito para que se permaneça em silêncio por horas e horas durante dias. Quem velamos? Ninguém é obrigado a permanecer mais tempo do que pode suportar ou que deseja. Nem mesmo as performers. O objetivo é sustentar o olhar no mistério. Se não conseguir subir até o segundo andar, pode ver o duelo a distância, em uma tela.

Onde e quando?
Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
Rua Primeiro de Março, 66
Do dia 21.03.2019 a 21.04.2019


O que eu achei?
Em Caixa Preta, duas mulheres (as atrizes Giulia Grandis e Ludmila Wischansky) nos guiam para dentro do teatro. Logo, nos vemos presos entre quatro paredes negras e, no meio deste espaço, um morto, coberto por ataduras. De cada lado do morto, uma cadeira vazia, que mais tarde será ocupada pelas atrizes. O público não sabe muito bem como reagir, pois não há lugar algum para sentar. Aos poucos, todos se amontoam no chão, a uma distância segura do morto. Estamos diante de um velório e há um forte incômodo por parte de todos. Afinal de contas, quem gosta de ser colocado diante da morte, mesmo que de forma figurativa?
Durante os cinquenta minutos do espetáculo idealizado pelo argentino Fernando Rubio, somos confrontados por frases que surgem em uma projeção na parede. “Aqui você pode chorar pelo seu irmão, pelo seu pai, pela sua mãe, pelo seu país”. O silêncio, que antes tomava conta do ambiente, é quebrado pelo barulho de soluços de espectadores. Da mesma forma que a performance lança questionamentos, ela também tenta respondê-los, fazendo com quem ali está presente reflita sobre questões como o luto, a dor, o ato de morrer e o que ele acarreta para os que continuam vivos.
As atrizes ali presentes não só velam o morto, elas são feridas: daqueles que se foram e dos que ficam. E, em dado momento do espetáculo, os espectadores são convidados eles mesmo a se tornarem feridas também: dois deles sentam nas cadeiras antes ocupadas pelas atrizes e tem seus rostos tampados por ataduras. Ao fim do espetáculo, todos os espectadores devem fazer o mesmo. Só que ao contrário da ação anterior, as portas são abertas e somos guiados desta vez para fora da caixa preta, em direção ao píer. As atrizes se abraçam. E nós todos, que fomos ferida por um momento, somos curados pela força motriz do afeto humano.

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