[Resenha] Dumplin'

Especialmente para os fãs de John Green e Rainbow Rowell, apresentamos uma destemida heroína e sua inesquecível história sobre empoderamento feminino, bullying, relação mãe e filha, e a busca da autoaceitação. Sob um céu estrelado e ao som de Dolly Parton, questões como o primeiro beijo, a melhor amiga, a perda de alguém que amamos demais e “estou acima do peso e ninguém tem nada com isso” fazem de Dumplin’ um sucesso que mexerá com o seu coração. Para sempre. Gorda assumida, Willowdean Dickson (apelidada de Dumplin’ pela mãe, uma ex-miss) convive bem com o próprio corpo. Na companhia da melhor amiga, Ellen, uma beldade tipicamente americana, as coisas sempre deram certo... até Will arrumar um emprego numa lanchonete de fast-food. Lá, ela conhece Bo, o Garoto da Escola Particular... e ele é tudo de bom. Will não fica surpresa quando se sente atraída por Bo. Mas leva um tremendo susto quando descobre que a atração é recíproca. Ao contrário do que se imaginava – a relação com Bo aumentaria ainda mais a sua autoestima –, Will começa a duvidar de si mesma e temer a reação dos colegas da escola. É então que decide recuperar a autoconfiança fazendo a coisa mais surreal que consegue imaginar: inscreve-se no Concurso Miss Jovem Flor do Texas – junto com três amigas totalmente fora do padrão –, para mostrar ao mundo que merece pisar naquele palco tanto quanto qualquer magricela.
O que eu achei?
Quando quero muito ler um livro, é difícil que algo que me faça desistir dele. Já quando eu não tenho certeza, costumo me basear pelas resenhas negativas e onde elas concordam entre si para me decidir se determinado livro merece uma chance. No caso de Dumplin’ foi um pouco diferente, pois eu sabia apenas três coisas sobre ele: menina gorda, romance e Dolly Parton. Considerando que, dentre os poucos livros com protagonistas gordos que li, apenas Quinze Dias acertou em cheio na mistura de elementos narrativos, eu estava à procura de outro que o acompanhasse nesse pódio. Infelizmente a estrela foi a Dolly mesmo.

O livro começa maravilhoso. As primeiras 80 páginas são cheias de humor, diálogos engraçados e personagens divertidos. A dinâmica de Will e sua melhor amiga, Ellen Dryver (se isso não é uma referência a Kill Bill, o universo pode acabar aqui mesmo), é maravilhosa e o modo como elas se complementam é muito fofo. O clima secreto de desejo entre ela e Bo é instigante e gostosinho de acompanhar. Até que acontece um salto de dois meses e o livro se transforma em algo totalmente diferente com uma protagonista que segue ladeira abaixo junto com ele.

Após perder a virgindade, sexo passa a ser o único assunto existente para Ellen e, em conjunto de sua crescente amizade com Callie, uma menina que aproveita todas as oportunidades possíveis de diminuir Will com seu veneno, as duas amigas se afastam sem um motivo concreto. A amizade das duas teve seu inicio marcado por uma música da Dolly Parton e de uma hora para outra é como se isso fosse o único elo que existia entre elas, tornando assim as diferenças, tanto de personalidade quanto de porte físico, algo de importância irreal.

De todos os livros com personagens gordos que já li — dentre eles Poder Extra G e Amor Plus Size — esse talvez seja o que menos consegui me identificar com os dramas da protagonista. Um leitor não vai sempre concordar com as atitudes de todos os personagens que encontrar por aí, e isso é algo que amo, estimula a empatia. O grande problema é que eu simplesmente não consigo entender Willowdean. Ela passa de empoderada, dona do próprio corpo e das próprias opiniões à insegura e faz escolhas que não fazem nenhum sentido em poucas páginas. Seu relacionamento com Bo é tudo que ela poderia sonhar, contudo ela mesma o sabota ao enfiar na cabeça que está tudo bem ela ser gorda, mas não com ele.

Ademais, a autora insere outro rapaz interessado por ela para construir um triângulo amoroso que não faz sentido nenhum em existir. É o básico Complexo de Jacob: ele é carinhoso, se importa com a menina, provavelmente faria tudo por ela, mas é claro desde o início que ele não vai conseguir conquistá-la. Mostra-se só mais um clichê para preencher a cota. O que realmente gostei em toda a leitura foi a influência que Dolly Parton exerce na história; a ponto do carro de Will se chamar Jolene (<3).

No fim das contas, sempre retorno ao que não me canso de dizer: representatividade não sustenta enredo. Seja personagem LGBT, gordo, negro, asiático, islâmico, o que for, se a história não for interessante, a estrutura como um todo não consegue manter-se firme a ponto de convencer o leitor do que ele está lendo.

Costumamos dizer que rótulos não nos definem, porém é impossível não buscar a nós mesmo nas palavras do próximo, aquilo que carrega boa parte da nossa vivência. Sendo assim, como um garoto (ainda tenho certa dificuldade de usar a palavra Homem, acho que ela tem muita força e estigmas pessoais presos à ela) gordo (algo inegável) tenho plena consciência de que eu não poderia me conectar completamente com a vivência de Will, mas eu a entendo. Eu conheço o medo de ser visto com outra pessoa, da associação que isso acarreta. A decepção é que era empoderamento que o livro propunha.

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