[Resenha] Um Banquete Para Hitler - A Morte Está Servida

Sinopse: “Eu, Magda Ritter, conheci Hitler.

Eu era uma das quinze mulheres que provavam sua comida, pois o Fürher era obcecado com a possibilidade de ser envenenado pelos Aliados ou por traidores dentro de seu círculo pessoal.

Ninguém, exceto meu marido, sabe o que eu fiz.

Nunca falei sobre isso. Eu não podia falar… Mas os segredos que guardei por tantos anos precisam ser revelados.

Às vezes, a verdade me oprime e me apavora. É como uma queda sem fim em um poço fundo e escuro. Mas, ao escrever minha história, descobri muito sobre mim mesma e sobre a humanidade. E também sobre a crueldade dos homens que fazem leis para se adequarem aos seus próprios interesses.

Eu conheci Hitler… E minha história precisa ser contada.”

Unindo a história e a ficção, Um banquete para Hitler mostra os extremos de privilégio e opressão sob a ditadura do Führer, expondo os dilemas morais da guerra em uma história emocionante, cheia de atos de extraordinária coragem em busca de segurança, liberdade e, finalmente, vingança.

O que eu achei?
Unindo a História e ficção, “Um Banquete Para Hitler”, de V. S. Alexander, lançado pela Gutemberg nos traz uma perspectiva completamente nova e original de um dos períodos mais sombrios da História. Nesta história, Magda Ritter nos conta o segredo da sua vida – ela conheceu Hitler. Pessoalmente. Sendo uma das provadoras - funcionário que prova a comida em busca de veneno – de Hitler, ela viveu próxima a Hitler e usufruiu de toda a proteção, ostentação e conforto que tal posição poderia lhe oferecer. E é ai que a história ganha novos contornos.
Acostumados com histórias que focam nas vítimas nos campos de concentração ou nas manipulações políticas, “Um Banquete Para Hitler” foge do comum e nos entrega uma protagonista neutra, um cenário que para ela era tão desconhecido quanto ignorado, e foca muito mais nesses pontos do que no drama das vítimas. Estas – as vítimas – são, aqui, analisadas por um novo ângulo.
A história nos conta as angústia da provadora e seus medos enquanto vivia sob o mesmo teto de Hitler, seus funcionários e outros nomes poderosos que iam e vinham. Mas não é uma angústia por medo. Era por ignorância. Magda nada sabia das atrocidades que a guerra causava, visto que vivia praticamente em exílio na casa da montanha de Hitler. Desta vez, não temos judeus como vítimas. Mas uma pessoa que entrou às cegas em um emprego para sobreviver, sem saber bem o que iria fazer e quem Hitler realmente era.
As personagens são incrivelmente bem construídas, estruturadas e mantidas durante todo o livro. As personagens mais presentes apresentam mudanças muito bem manipuladas; as personagens que aparecem menos, não fogem a essa regra. Todos são muito bem conduzidos pela história, e os efeitos da vida em serviço ao Reich são cuidadosamente trabalhados, dando uma carga emocional enorme a história. Porque é basicamente isso o que a história nos mostra: os efeitos da guerra não para os que estão a favor ou contra, mas para aqueles que são pegos de surpresa no meio do caminho, desavisados e despreocupados. A ignorância sobre o momento politico e social que viviam era uma benção ou uma maldição?
A narrativa tem um ar intimista, principalmente por ser contado em primeira pessoa, com cargas emocionais muito bem trabalhadas e exploradas em momentos certos. A mistura de deslumbramento com uma certa morbidez que espreita aos cantas da veracidade ao relato – que já apresenta muitos aspectos reais. Personagens, datas, movimentações e acontecimentos reais são retratados nesse livro, tão próximos da realidade quanto possível – com ressalvas pequenas, como o autor comenta ao fim. A recriação de Hitler é um dos pontos mais interessantes da história, pois vemos de forma mais clara o “poder” que ele tinha de influenciar aqueles ao seu redor – alem de vermos, também as atitudes do já influenciados. Os buracos que esse momento histórico apresenta em seus relatos deram espaço para o autor completar com momentos únicos. Há tensão, drama, angústias vindo de todos os lados. Há medo e traição, desespero, alianças sendo formadas, planos sendo traçados, e romances surgindo de forma inesperada.
São tantos pontos positivos nessa história que eu poderia continuar escrevendo sobre ela infinitamente, pois eu realmente fiquei muito impactado por essa leitura, por essa história tão singular e arriscada. “Um Banquete Para Hitler” nos apresenta uma história que nos faz avaliar e questionar mais profundamente os 'porques' de como conceitos e atitudes tão destrutivas e devastadoras como a do nazismo conseguiram ganhar tanta força e chegar tão longe sem que ninguém impedisse, além de nos mostrar até que ponto podemos ir por liberdade, segurança e vingança.

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