[Resenha] A Escolha dos Três


Com incansável imaginação, Stephen King dá continuidade à magistral saga épica A Torre Negra. 'A Escolha dos Três', segundo volume da série, lança o protagonista Roland de Gilead em pleno século XX, à medida que ele se aproxima cada vez mais de sua preciosa Torre Negra, sede de todo o tempo e de todo o espaço. Um derradeiro confronto com o homem de preto revela a Roland, nas cartas de um baralho de tarô, aqueles que deverão ajudá-lo em sua busca pela Torre Negra: o Prisioneiro, a Dama das Sombras e a Morte. Para encontrá-los, o último pistoleiro precisará atravessar três intrigantes portas que se erguem na deserta e interminável praia do mar Ocidental. São portas que o levam a um mundo diferente do seu, em outro tempo, de onde ele deverá trazer seus escolhidos: Eddie Dean, um viciado em heroína; Odetta Holmes, uma bela jovem negra que perdeu as pernas em um medonho acidente e sofre de misteriosos lapsos de memória; e o terceiro escolhido, a Morte, que vai embaralhar mais uma vez o destino de todos. A primeira porta o leva à Nova York dos anos 1980 e a Eddie Dean. A segunda transporta o pistoleiro à mesma cidade, mas dessa vez na década de 1960. A Dama das Sombras que Roland encontra atrás dessa segunda porta é Odetta Holmes. Roland e Eddie não demoram a descobrir que a mente de Odetta abriga também a malévola Detta Walker, num evidente distúrbio de dupla personalidade. Com o terceiro escolhido, A Morte, as cartas tornam a se embaralhar e a busca de Roland pela Torre Negra sofre uma nova e imprevisível reviravolta.
O que eu achei?
A Torre Negra é minha obsessão do momento. Se estivermos conversando sobre livros, em algum momento eu vou enfiá-la no meio sem o seu consentimento, pois é isso que eu faço quando algo me prende tão profundamente e me deixa confabulando sozinho sobre o que virá em seguida (sem nunca encontrar a resposta, é claro). Muito mais do que apenas a história de Roland, o que me tem me deixado completamente pilhado no desenrolar das coisas é o processo de sua escrita, o quanto ela sofre influência da cultura pop da época e sua enorme abrangência no “Kingverso”.

Começando quase imediatamente de onde o anterior parou (passaram-se apenas algumas horas), nesse livro o último pistoleiro de Gilead, Roland, agora que confrontou o Homem de Preto e teve seu destino premeditado em um jogo de tarô, precisará encontrar as três figuras que formarão seu ka-tet — variação de ka, algo semelhante a um elo do destino, que denomina quando duas ou mais pessoas estão ligadas ao mesmo fio profético —: O Prisioneiro, A Dama das Sombras e A Morte.

Eddie, o Prisioneiro, é um viciado em heroína de uma Nova York dos anos 70’ tentando passar despercebido pela alfândega com pacotes de drogas enrolados ao seu corpo. A Dama das Sombras — ou, melhor dizendo, As Damas — Detta e Odetta são duas mulheres presas num mesmo corpo sem que nenhuma saiba da existência da outra. Quando foi atingida por um tijolo na cabeça na infância, Odetta Holmes desenvolveu um grave quadro esquizofrênico que permitiu o surgimento de Detta Walker, uma personalidade extra completamente louca e sedenta por caos. Já A Morte é uma figura cujo passado interliga-se ao do Pistoleiro e o da Dama de forma profunda e meticulosa, trazendo uma reviravolta surpreendente para a história nos quarenta e cinco do segundo tempo.

A grande diferença entre O Pistoleiro e A Escolha dos Três é seu compasso. Parte do misticismo anteriormente visto é mantido, mas a história toma rumos cujas raízes são mais firmes no chão. O ritmo dos acontecimentos é desacelerado e, o que antes fazia pouco sentido, agora é mais centrado e em decorrência disso o grande foco torna-se o relacionamento de Roland com seus três escolhidos. A relação de Roland e Eddie, principalmente. No decorrer da trama, mesmo que eles mesmos não percebam, tornam-se tão essenciais à vida um do outro quanto uma âncora que liga seus mundos tão parecidos e ao mesmo tempo tão distintos.

Apesar de ter demorado bastante na leitura desse livro, não quer dizer que seja ruim, mas que certas partes eram um tanto mundanas demais e cheias de descrições detalhadas em situações que não havia muita importância, de modo que fui procurar me entreter com outros livros em paralelo. Contudo, algo que me cativa bastante nesses livros é a facilidade na hora de retornar a eles. Tanto O Pistoleiro quanto A Escolha dos Três me presentearam com essa possibilidade de fazer mais de uma leitura ao mesmo tempo sem ficar de cabelos em pé de preocupação em talvez me perder em todas elas. Isso é algo que aprecio muito, pois sempre fico meio desesperado em começar muitos livros em conjunto.

A Escolha dos Três marca a primeira passada firme em direção à tão desejada — e temida — Torre Negra. A “série” (entre aspas, pois o King a considera um enorme livro único dividido em oito partes, se você contar O Vento Pela Fechadura, o extra que se encontra entre os tomos quatro e cinco) começa a tomar proporções na mesma medida que continua a deixar o leitor num imenso e incerto escuro quanto ao seu futuro.

De acordo com uma pesquisa que fiz sobre a ordem de leitura da série — que eu pretendo seguir o máximo possível — em paralelo aos demais livros do King (muitos deles fazem ligações com a Torre, sejam explícitas, como alguns possuírem personagens em comum, ou implícitas, apresentando apenas conceitos semelhantes), agora é a hora de ler A Dança da Morte, um de seus livros que mais me empolga a leitura depois que li Sobre A Escrita e vi quanto esse livro foi importante para ele. Sendo assim, minha própria jornada para a Torre vai dar uma pausa, possivelmente bem longa, mas não definitiva.

Escrito por Julio Gabriel

Nenhum comentário