[Resenha] Lily & Dunkin

Sinopse: Lily Jo McGrother, nascida Timothy McGrother, é uma menina. Mas ser uma menina não é tão fácil quando você tem um corpo de menino. Especialmente quando você está na oitava série e seus colegas não aceitam isso. Dunkin Dorfman, nascido Norbert Dorfman, é um garoto com transtorno bipolar que acaba de se mudar de Nova Jersey, cidade que chamou de lar durante os últimos treze anos. Isso já seria bastante complicado, mas o segredo doloroso que ele esconde torna tudo ainda pior. Numa manhã de verão, Lily encontra Dunkin, e suas vidas mudam para sempre.

O que eu achei?

Me aventurando em livros desconhecidos que surgem pelo meu caminho, eis que conheci o título “Lily & Dunkin”, de Donna Gephart, uma história YA que aborda dois temas de extrema importância e relevância: transexualidade e bipolaridade. Pela sinopse, o livro já havia me conquistado, mas ao começar a ler o primeiro capitulo eu soube que seria uma viagem de emoções extremas, sem filtro.

Neste livro conhecemos Lily, nascida Timothy, que desde sempre soube que seu corpo não representava quem ela era de verdade. E conhecemos também Norbert, recém chegado a cidade, muito alto para a sua idade, e com um passado meio conturbado. Quando o caminho dos dois se cruzam, uma das cenas mais pesadas desse livro acontece. E não vai ficando mais fácil ler depois disso.

Com extremo cuidado, a autora aborda a transexualidade na pré-adolescência de uma forma muito realista. Não há exageros e nem momentos forçados na trajetória de Lily, apenas uma alma que está lutando para ser aceita por ser quem realmente é, enquanto muito ao seu redor insistem em rebaixa-lá a meramente aquilo que seu corpo representa. Os capítulos de Lily são os mais doces e emotivos, já que somos espectadores de todas as suas lutas diárias, seja consigo mesma, com a família ou na escola. Aceitação, coragem e perdão são os pontos principais de sua narrativa, e são tratados de forma direta, sem enfeites.

Já com Norbert – ou Dunkin -, nós somos levados por uma narrativa mais confusa em questão de memória. Por sofrer de Transtorno Bipolar, em alguns momentos o ritmo de sua narrativa muda – seguindo seu humor -, o que dá riqueza a leitura. Além disso, muito do seu passado se mantém em suspense, o que dá uma carga mais pesada para a sua história. A parte psicológica foi explorada de forma incrível, e cada detalhe foi utilizado de maneira muito cuidadosa.

A história gira basicamente em questões como aceitação, amizade e apoio familiar, mas também trata de força, bullying e perdas. Apesar de ser um livro infanto-juvenil com personagens relativamente jovens – 13, 14 anos de idade -, são abordadas questões que irão formar o caráter de todo e qualquer ser humano: traumas, preconceito... Medo. Contudo, nem todo medo aqui provem do perigo. Nem todo preconceito provem do ódio. Questões comuns dessa idade também são abordadas, principalmente no âmbito escolar, como a estressante necessidade de se sentir incluso, de ter amigos. De não ser um excluído – o que pode levar as personagens a tomar algumas atitudes meio erradas, às vezes.

São pontos muito mais complexos do que apenas julgar a atitude ou a aparência. A contextualização das personalidades funcionou muito bem nessa história, sem deixar criar a personagem mal-por-ser-mal. Mas dando uma base para isso. Algo como causa e efeito.

“Lily & Dunkin” foi sem dúvidas um dos livros mais tocantes e marcantes que já li, e é impossível não se emocionar, torcer ou comemorar cada conquista dos nossos protagonistas. Em tempos de intolerância e idolatria ao ódio, este livro chega para ensinar empatia e celebrar o poder das diferenças. Acredito que essa deveria ser uma leitura obrigatória, hoje mais do que nunca.

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