[Festival] Especialista em ‘audiências do futuro’, mexicana Paula Astorga critica algoritmo das plataformas de streaming e defende o cinema como experiência coletiva
A produtora, curadora e gestora cultural mexicana Paula Astorga, criadora do seminário “Públicos e audiências do futuro”, apresentado pela primeira vez no Brasil na última ExpoCine 2025 e realizado há 15 anos no México, será tutora no #LINK, um dos encontros mais estratégicos do cinema de não-ficção na Ibero-América que, após 14 edições na capital argentina, chega ao Rio de Janeiro, de 6 a 11 de outubro de 2025, no Centro Cultural Justiça Federal, numa parceria inédita com o Festival do Rio e o RioMarket.
Paula traz uma reflexão urgente sobre como pensar audiências no cinema latino-americano. Para ela, o desafio não está em “formar espectadores”, mas em reconhecer e validar comunidades que já existem. “Não acredito na formação de audiências de maneira hierárquica, e sim na validação e no reconhecimento delas”, afirma a ex-diretora da Cinemateca da Cidade do México, onde liderou uma profunda remodelação que incluiu a criação de um museu, um laboratório de restauração e uma videoteca digital, e diretora do Festival de Cinema de Documentário de Lisboa (FICUNAM/México).
Para Paula, pensar o público é pensar a própria natureza do cinema. “O cinema não é um produto: é um espaço de encontro, de conversa e de pertencimento”, diz. “Não acredito na formação de audiências de maneira hierárquica, e sim na validação e no reconhecimento delas.”
Com trajetória que passa pela criação de festivais, cineclubes e circuitos independentes, Paula propõe uma virada conceitual: em vez de formar espectadores, é preciso reconhecer comunidades já existentes — e respeitar as múltiplas maneiras como cada grupo se relaciona com as imagens. “Não existe um cinema latino-americano, existem os cines do Brasil, os cines do México. Assim como somos diversos, nossas audiências também são.”
A mexicana critica a lógica de consumo que domina o cinema comercial e as plataformas de streaming, que, segundo ela, transformaram a obra em mero “conteúdo”. “Nas plataformas, a obra se transforma em conteúdo — e o espectador deixa de viver uma experiência”, afirma. “O algoritmo não pensa em você; ele apenas registra hábitos de consumo e te devolve o mesmo”.
Astorga observa que, nesse ambiente, o espectador “acredita que está vendo o que quer ver, mas o sistema o ensina o que deve querer”. Para ela, o resultado é a perda de vínculo e de sentido coletivo: “É um espaço que funciona, claro — mas não é um espaço de liberdade humana.”
Apesar das críticas, ela vê no público uma potência de transformação. “As pessoas são muito mais inteligentes do que as tratamos. Já não precisam ser vistas como números que compram pipoca.” Astorga acredita que o verdadeiro sucesso do cinema está na capacidade de gerar experiências compartilhadas e significativas, como as vividas nas salas. “O espectador não é um número: é alguém que busca sentido, reconhecimento e comunidade.”
Crescimento de espectadores no cinema brasileiro
Esse olhar se torna ainda mais relevante diante da fase de expansão que o cinema brasileiro atravessa. Em 2024, foram mais de 121 milhões de espectadores nas salas, com recorde de 3.509 salas em operação, ultrapassando o patamar pré-pandemia. No mesmo ano, os filmes nacionais registraram um aumento de público de 241%, elevando sua participação no mercado interno para 10,1 %, contra apenas 3,2 % em 2023.
Em 2025, até a 23ª semana cinematográfica, o cinema nacional já corresponde a 16,5 % do público, com cerca de 8,7 milhões de espectadores e arrecadação de R$ 166 milhões. Além disso, de maio de 2024 a maio de 2025, as vendas de ingressos para filmes brasileiros cresceram 197 % segundo dados do Ingresso.com.
Os números reforçam uma retomada vigorosa e um redirecionamento do interesse do público para as produções nacionais — cenário no qual a reflexão proposta por Paula Astorga sobre públicos e comunidades encontra terreno fértil.
No LINK 2025, Paula Astorga vai instigar realizadores e programadores a refletirem sobre como criar vínculos reais entre filmes e pessoas, reconstruindo o sentido coletivo da exibição e das salas de cinema. “Se queremos manter nossas cinematografias vivas, precisamos perguntar de novo: para quem e por que fazemos filmes?” questiona. “Pensar as audiências é analisar as sociedades — e entender o cinema como parte da vida das pessoas”, conclui.
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De 6 a 11 de outubro
Centro Cultural Justiça Federal e Cais do Porto



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