[Crítica] A ilusão da ilha de Yakushima

 

Sinopse:

Em A Ilusão da Ilha de Yakushima, uma pediatra francesa especialista em transplantes cardíacos chamada Corry se muda para o Japão onde a doação de orgãos é tabu graças a convicções religiosas e culturais. Enquanto tenta salvar a vida de um garoto no centro pediátrico onde trabalha, Corry é surpreendida por uma crise pessoal que a coloca em confronto direto com o debate sobre a hora certa de dizer adeus e aceitar a morte. Seu namorado Jim, um fotógrafo de Yakushima, desaparece misteriosamente, tornando-se mais um Johatsu, termo que os japoneses usam para descrever as milhares de pessoas que desaparecem sem deixar nenhum rastro e do dia para a noite. Corry passa a viver uma dupla jornada: a de salvar a vida de uma criança e a de lidar com a perda do companheiro que ama.


                              O quê eu achei?

Eu já conhecia a Vicky Krieps da versão de 2023 de Os três Mosqueteiros- Milady e de alguns outros filmes e já tinha visto apenas uma produção anterior da diretora Naomi Kawase-Mães de verdade- e resolvi assistir esse, pois faz parte da programação do Festival do Rio 2025. 

Corry(Krieps) é uma pediatra francesa especializada em transplantes cardíacos que se muda para o Japão, onde passa a trabalhar em uma clínica. Acontece que lá a doação de órgãos é considerada tabu devido à crenças culturais e religiosas.

Ao mesmo tempo em que ela corre para tentar conseguir um doador compatível para seu paciente, outro problema surge:seu namorado, Jin (Kan'ichirô) se torna um Johatsu, termo usado pelos japoneses para designar pessoas desaparecidas da noite para o dia sem nenhum rastro.

Kawase estrutura a narrativa em dois níveis principais. O primeiro diz respeito à doação de órgãos no Japão, onde as taxas permanecem entre as mais baixas dos países desenvolvidos e as longas listas de espera pediátricas inevitavelmente resultam em muitas mortes. Esta parte da história assume frequentemente um estilo documental, mostrando as apresentações de Corry aos médicos e os testemunhos da equipe médica. Os obstáculos culturais e estruturais são claros, principalmente o fato de que a morte cerebral não é universalmente reconhecida como morte, deixando as famílias relutantes em consentir. A dor das famílias de ambos os lados do processo, juntamente com raros momentos de sucesso, formam o núcleo do drama. Kawase lida com esse material com moderação, raramente permitindo que a história caia no sentimentalismo.

O segundo nível acompanha o desaparecimento de Jin e o efeito que isso tem sobre Corry. Essas cenas revelam mais sobre ela fora da clínica e também conectam o filme com o trabalho anterior de Kawase por meio de uma série de interlúdios naturais, quase líricos. A intimidade entre Corry e Jin é retratada com honestidade, incluindo uma cena de sexo realista e silenciosamente sensual, e fica claro que Jin estava gradualmente afundando no desespero. O possível papel de Corry nisso, bem como sua incapacidade de entender a decisão dele de partir, são fundamentais para seu tormento. Uma visita posterior aos pais dele tem um peso particular, novamente apresentada de uma forma que evita excessos.

Quando combinadas, essas duas vertentes funcionam bem, cada uma contrabalançando a outra.E ainda tem as belas paisagens da ilha de Yakushima, na província de Kagoshima. Vale a pena conferir.

Estreia em breve nos cinemas nacionais. Visto no Festival do Rio.


                             Trailer:



                                  



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