[Resenha] Ninfeias Negras

Vencedor de cinco prêmios literários, Ninfeias negras foi o romance policial mais premiado da França em seu lançamento. Giverny é uma cidadezinha mundialmente conhecida, que atrai multidões de turistas todos os anos. Afinal, Claude Monet, um dos maiores nomes do Impressionismo, a imortalizou em seus quadros, com seus jardins, a ponte japonesa e as ninfeias no laguinho. É nesse cenário que um respeitado médico é encontrado morto, e os investigadores encarregados do crime se veem enredados numa trama em que nada é o que parece à primeira vista. Como numa tela impressionista, as pinceladas da narrativa se confundem para, enfim, darem forma a uma história envolvente de morte e mistério em que cada personagem é um enigma à parte – principalmente as protagonistas. Três mulheres intensas, ligadas pelo mistério. Uma menina prodígio de 11 anos que sonha ser uma grande pintora. A professora da única escola local, que deseja uma paixão verdadeira e vida nova, mas está presa num casamento sem amor. E, no centro de tudo, uma senhora idosa que observa o mundo do alto de sua janela.
O que eu achei?
Adoro romances policiais e sou especificamente fã de tramas que giram em torno de contextos artísticos, como a bíblia do romance policial O Código Da Vinci, logo a expectativa para esse livro quando soube do seu lançamento foi apenas subjetivamente controlada (pois por dentro só gritos). E provavelmente foi a mesma que destroçou minha leitura, que terminou em mais uma decepção.

Em tese, a trama gira em torno de três mulheres e como suas história estão interligadas a um brutal assassinato ocorrido no lago das ninfeias de Monet. Uma senhora idosa popularmente chamada de bruxa e que mora no topo de um moinho com vista para todo o vilarejo de Giverny, que já não é muito grande, uma mulher infeliz em seu casamento por seu marido ainda não tê-la dado filhos, e uma menina com talento nato para a pintura.

Narrado majoritariamente em terceira pessoa, exceção apenas à bruxa que narra em primeira, o livro alternará entre os pontos de vista dos investigadores do crime e essas mulheres, porém em proporções desiguais. A velha, com seus pensamentos enfadonhos, e a menina, Fanette, tomam muito espaço na narrativa enquanto Stéphanie, a mulher, tem sua história contada pelo ponto de vista de outros, passando por um filtro que encontra-se longe de ser imparcial.



Os detetives que investigam o caso mais parecem pessoas jogadas no meio de um tiroteio que nem sabiam que estava acontecendo de tão sem sentido que são seus métodos. Como por exemplo, ao encontrar uma pegada de bota na cena do crime, exigir o recolhimento de TODAS as botas de TODOS os moradores do vilarejo (não tem como aceitar uma coisa dessas calado). O principal, Sénérac, deixa-se influenciar por Stephanie, considerada suspeita, de modo que para ele tudo gira em torno de seu marido, conhecido pelo habitantes do vilarejo como alguém muito ciumento. Sendo assim, resta apenas Sylvio, seu assistente, para trazer alguma ordem, mesmo que mínima, à investigação, porém acaba sendo constantemente desacreditado pelo chefe, fazendo a história retornar ao zero de novo, de novo e de novo...

É a sequência de pequenos problemas que torna Ninfeias Negras um livro desacreditável. As péssimas escolhas dos detetives, diálogos que não possuem serventia para a narrativa como um todo — mesmo que o autor retome incisivamente seu discurso de que os mínimos detalhes são meticulosamente calculados para a resolução do mistério, o que discordo — e, principalmente, a enorme hesitação da velha bruxa de prover ou não seu conhecimento sobre o caso à investigação. O autor apresenta pequenos flashes da senhora sobre o que pensa da passagem do tempo em Giverny e nesse meio sua ponderação de intrometer-se ou não no caso. Um imenso vai-não-vai que chega a ser irritante.

Há algo evidentemente estrangeiro na escrita do autor. A formação das frases foge bastante dos eixos comuns dos livros que são trazidos para cá, como norte-americanos, ingleses ou mesmo os nossos — quase como se fosse francês demais para que passasse despercebido. Em algumas situações é como se sua tradução para o português não conseguisse adaptar de forma confortável o que o autor desejava passar justamente por seu extremo regionalismo linguístico e o contexto aparenta estar fora de ordem.



Apesar de tudo, a informações sobre Monet (acho que li esse nome tantas vezes que talvez não faça mais sentido) e sua obsessão para com o lago e as ninfeias são bem interessantes de acompanhar, e Michel Bussi sabe prender muito bem o leitor. Sua narrativa picotada, liberando informações à mingua, cria uma compulsão a virar as páginas. Contudo perdem força pelo ritmo lento e, por vezes, insosso, até que, lá pelas grandes revelações finais, e já não me importava com o que estava acontecendo, ou seja, uma leitura facilmente esquecível.


Postado por Julio Gabriel

4 comentários:

  1. Olá Julio!
    Nossa! Tava criando tanta expectativa em torno desse livro que confesso que agora fiquei com um pé atrás dele. É claro que nem todos tem as mesmas perspectivas diante de uma história, policial então...
    Enfim... vou amadurecer um pouco a minha vontade de lê-lo. Como sei que vai demorar quem sabe eu acabe vendo essa história sob uma nova ótica?
    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Oi Julio,
    Uma pena que te decepcionou né?!
    O enredo tinha tudo para ser sucesso, mas realmente quando tem diálogos desnecessários e as atitudes dos personagens são ruins, fica complicado ter afinidade com a história.
    beijos

    ResponderExcluir
  3. Oi Julio,
    poxa até eu fiquei desapontada pelo o enredo não ter sido tudo aquilo que você esperava, porque esse livro está na minha lista e seria um dos próximos. Mas em vista da sua resenha, irei deixar ele pra bem depois. Quando os personagens são totalmente intragáveis, você acaba ficando desanimado com o restante do livro. Uma pena!
    Beijos

    ResponderExcluir
  4. Quero muito ler esse livro, espero não me decepcionar.

    ResponderExcluir