[Nerds & Geeks] A origem da Mulher-Maravilha e algumas curiosidades



  
Diana Prince, ou como é mais conhecida, a Mulher-Maravilha, tem cativado leitores desde sua criação no início dos anos 40. Ao longo desses setenta nos, sua origem tem sido controversa pois sofreu alterações nas várias fases da super-heroína.

As revistas em quadrinhos surgiram na década de 1930, criadas por Maxwell Gaines, fundador da editora All-American Comics e rapidamente tornaram-se uma febre, com vendas mensais ultrapassando a marca das 10 milhões de cópias. O sucesso trouxe também um forte grupo opositor, que julgava as histórias como péssimas influências para as crianças] Na mesma época, em uma entrevista realizada em 25 de outubro de 1940, realizada pela ex-aluna de William Moulton Marston, Olive Byrne (sob o pseudônimo de Richard Olive) e publicado pela Family Circle, intitulado “Não ria dos Quadrinhos”, o futuro criador da Mulher-Maravilha descrevia o que viu como o potencial educacional das histórias em quadrinhos. Dois anos depois, em 1942, um artigo publicado deu sequência à entrevista. Este artigo chamou a atenção de Max Gaines, que contratou o psicólogo Marston como consultor educacional da National Periodicals of American Publications e All-American Publications, duas das companhias que se fundiriam futuramente para dar origem à DC Comics.

Max Gaines sentia que faltava algo novo nas histórias de super-heróis que publicava na época e encarregou o consultor educacional recém-contratado da tarefa de criar um personagem diferente. William Moulton Marston, ainda imaginando sobre como seria o personagem, sabia que gostaria que esse novo herói abraçasse o amor e a paz no lugar da violência e da guerra, tão comuns nos quadrinhos da época. Muito embora esses ideais estivessem claros na mente de Marston desde o início, foi Elizabeth Marston, esposa do psicólogo, a responsável por acender a fagulha que levaria a criação da primeira super heroína e da Mulher-Maravilha como a conhecemos. William Moulton Marston, já famoso por ter sido o inventor do polígrafo, teve a ideia para um tipo novo de super-herói, um que triunfaria não com punhos ou poderes, mas com amor. "Bom", disse Elizabeth. "Mas faça-o uma mulher."

Cabe ressaltar que William Moulton Marston tinha quatro filhos e duas mulheres, ambas cultas e independentes. Este trio vivia sob o mesmo teto, numa relação consensual. Ele incentivava tanto o movimento sufragista quanto o feminismo, pois para ele as mulheres deveriam ser tão livres e independentes quanto quisessem, e deveriam ter a opção de continuar os estudos em universidades se assim desejassem – o que era o caso de Elizabeth, que possuía três diplomas de nível superior, era mãe e trabalhadora. A situação poligâmica também envolve Olive Byrne, sobrinha de uma importante feminista do século XX, Margaret Sanger, e também a outra mulher que o inspirou na criação da guerreira amazona.

H. G. Peter foi escolhido para desenhar a história de uma nova heroína porque na década de 1910, o desenhista fez parte da equipe artística da revista Judge e contribuiu para a página sufragista The Modern Woman. Marston pediu que a Mulher-Maravilha fosse desenhada com base nas pin-ups que Alberto Vargas publicava na revista masculina Esquire. Várias referências da vida do psicólogo são visíveis na personagem. Como Sadie, Diana era uma “amazona”, mas uma amazona da mitologia grega. Como Olive, Diana usava braceletes, mas para desviar balas. Marston também possuía um estranho fascínio em descobrir os segredos das pessoas, pois como já citado anteriormente. é o inventor do polígrafo, popularmente conhecido como detector de mentiras. E sua obsessão e invenção tomam forma no “laço da verdade”, usado pela heroína quando os vilões tendem a não cooperar com seu propósito.

Quando a Mulher-Maravilha foi criada, o mundo dos quadrinhos era estritamente dominado por homens. No início de 1940, a DC Comics era dominada pelos personagens masculinos com superpoderes, tais como Lanterna Verde, Batman e o principal deles, Superman. Motivado pelo ponto de vista masculino de seus criadores, os heróis de quadrinhos relegaram às mulheres o papel de mãe, esposa e amiga. Em uma reportagem da revista New Yorker, William Moulton Marston coloca desta forma: “Francamente, a Mulher-Maravilha é a propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deve, creio eu, governar o mundo“. A personagem era um tipo de cavalo de Troia: infiltrava-se nos lares norte-americanos em histórias menos violentas para ensinar às crianças que “o ideal de superioridade masculina e o preconceito contra as mulheres”, nas palavras de Marston, eram prejudiciais. A personagem não tem permissão para matar ninguém, nem estava autorizada a usar a violência, exceto para se defender ou defender outras pessoas. O amor era – e ainda é – a chave para a força da mulher. Quando a Mulher-Maravilha vence o inimigo, ela também torna possível que o vilão veja seu erro, além de fornecer reabilitação, utilizando seu laço mágico para fazer com que os malfeitores possam reconhecer seus erros.

Maxwell Charles Gaines e William Moulton Marston não tinham certeza de como uma heroína feminina seria recebida. No começo, ele escreveu os quadrinhos sob o pseudônimo de Charles Moulton. Na edição número 8 da revista All Star Comics de 1941, surge a super-heroína Mulher-Maravilha. Sua primeira história completa foi lançada em 1942, na revista Sensation Comics. Poucos meses depois, no verão de 1942, a personagem ganhou sua revista própria e o escritório de Nova York da All-American Comics enviou um comunicado de imprensa aos jornais, revistas e estações de rádio em todo os Estados Unidos. A identidade do criador da Mulher Maravilha, a princípio mantida em segredo, foi revelada em um anúncio chocante: o autor de Mulher-Maravilha, era apenas o Dr. William Moulton Marston, um psicólogo internacionalmente famoso. E o resto é história.

A personagem passou por várias reformulações durante as fases das histórias de quadrinhos ao longo de sete décadas. Algumas foram em seu uniforme, outras foram em sua origem e algumas em seu modo de agir, pontos fortes e fraquezas e histórias. Um exemplo de mudança no filme foi a chegada de Steve Trevor em Themyscira como um espião britânico se passando por soldado alemão que foi descoberto. Nos quadrinhos, o oficial Trevor estava conduzindo um treinamento de voo no Triângulo das Bermudas quando seu avião se desviou da rota e aterrissou na ilha. O uniforme começou mais recatado, Diana tinha bustos menores do que tem hoje, vestia uma bermuda azul com estrelas e um top vermelho com uma águia amarela no centro e calçava botas vermelhas com listras brancas no lado. Vários desenhistas acrescentaram pequenas mudanças até chegar à versão atual. A armadura que Gal Gadot usou no filme foi projetada por Michael Wilkinson, que levou em consideração os trajes que ela usou ao longo dos anos e as armaduras da Grécia Antiga.

Algumas curiosidades: ela já segurou o martelo de Thor em um crossover do ano de 1990, na revista Marvel Comics Presents Volume 1,#45, e lutou contra Tempestade dos X-Men (pasmem, Diana perdeu para Ororo). Seu criador, William Moulton Marston, desenvolveu um dos primeiros testes detectores de mentira após perceber como a pressão sanguínea das pessoas mudam quando elas mentem. Ele construiu a primeira versão da máquina em 1915 e publicou sua descoberta em 1917.Ele era um ferrenho defensor dos direitos das mulheres e por isso, uma das poucas fraquezas de Diana era que nunca se deixasse ser amarrada por um homem ou perderia seus poderes. Ela sempre quis que ela representasse uma mulher empoderada, ou seja, a Mulher-Maravilha sempre foi um símbolo feminista, uma figura que lutasse pelos direitos das mulheres.

Para quem nunca leu uma HQ de Diana, recomendo a história de George Pérez, volume 1, que narra desde o início, de sua concepção até a luta com Ares e sua arqui-inimiga, Cheetah (Mulher-Leopardo).. Outras histórias que valem a pena conferir são Wonder-Woman Chronicles volume 1, que mostra as histórias desde a primeira, em 1941, até as atuais, Paradise Found, de Phil Jimenez, em que a feiticeira Circe transforma todos os super-heróis do mundo em feras selvagens e a Mulher-Maravilha forma um time de super-heroínas para salvar a Terra e o primeiro volume de Greg Rucka, Hiketeia, em que uma criminosa vai na casa de Diana e invoca o antigo ritual grego de Hiketeia, um juramento de proteção. Diana aceita e se torna sua protetora. O problema é que ela está sendo perseguida por Bruce Wayne. As cenas do embate entre o Homem-Morcego e a Mulher-Maravilha são memoráveis. Também recomendo a fase de Brian Azzarello dos Novos 52.

E em relação ao filme, eu achei sensacional. A israelense Gal Gadot conseguiu encarnar a personagem perfeitamente e há vários destaques no filme como a Hipólita de Connie Nielsen e a Antíope de Robin Wright. A trilha sonora da cantora Sia é outro ponto alto do longa. Que a Mulher-Maravilha continue inspirando mulheres a lutar por direitos iguais por mais sete décadas!

   Agradecimentos especiais à Alexandre Pytel por ter me ajudado a escrever essa matéria!


O primeiro volume da fase de George Pérez.

Primeiro volume das crônicas de William Moulton Marston e Harry G. Peter.

Paraíso perdido de Phil Jimenez.

  O primeiro volume de Greg Rucka.

Primeiro volume da Mulher-Maravilha dos Novos 52 de Brian Azzarello.
  

Um comentário:

  1. Oi Clara!!
    Não sabia que a criação da mulher maravilha foi em 1930!
    Com certeza é um exemplo de empoderamento ;)
    beijos

    ResponderExcluir