[News] Meio do Céu chega ao Recife: o drama tragicômico de Ubiratan Muarrek pousa na cidade dos personagens

 


Depois de estrear em São Paulo, seguir para o Rio de Janeiro e atravessar o Atlântico até Lisboa, Meio do Céu — o mais recente livro do escritor paulista Ubiratan Muarrek — faz agora sua escala mais simbólica: Recife, cidade natal dos personagens que habitam sua trama tragicômica.


O lançamento pernambucano acontece no dia 30 de junho, às 19 horas, na Livraria do Jardim (Avenida Manoel Borba, 292 - Boa Vista - Recife/PE), com um debate especial entre o autor e a professora e escritora Fernanda Pessoa, celebrando a chegada do livro justamente à terra de origem das vozes que o compõem.


Publicado pela Assírio & Alvim, Meio do Céu propõe uma forma radical de prosa brasileira: escrito em formato de peça teatral, sem narrador, conduz o leitor por diálogos truncados e silêncios carregados de tensão. A história se passa em Londres, em 25 de julho de 2000, dia da queda do Concorde em Paris — que matou 113 pessoas — metáfora central da obra, que anuncia um século marcado por rupturas, desigualdade e instabilidade.


Na metrópole inglesa, duas amigas brasileiras, Sofitel e Greta — uma negra e uma branca, ambas vindas de um Recife ainda assombrado pela escravidão — se reencontram em um parque e confrontam o passado que compartilham. A partir desse embate, Muarrek constrói o que o dramaturgo Leo Lama define como uma “cacofonia de palavras”, na qual os personagens, como o próprio Concorde, atravessam suas zonas de turbulência pessoal e histórica.


Muarrek desvela os dilemas contemporâneos entre o Brasil arcaico e o Brasil moderno. Assim como o supersônico colapsa no ar, os recifenses expatriados de Meio do Céu enfrentam o próprio esfacelamento: o racismo, as tensões de classe e as feridas coloniais ganham corpo numa Londres que funciona menos como refúgio e mais como espelho distorcido do Brasil.


"O autor aborda temas fundamentais da literatura contemporânea — regionalismo, pautas identitárias, luta de classes — mas o faz de forma original, recusando formatos narrativos convencionais e apostando em uma estrutura fragmentada e caótica, onde a própria linguagem se torna o campo de batalha", escreve a poeta e escritora Tatiana Eskenazi.


Meio do Céu antecipa, com precisão quase profética, as contradições que marcariam as duas primeiras décadas do século XXI — como observa o crítico Enio Vieira: 


“O livro se insere numa linhagem contemporânea da escrita feita por vozes. [...] Um coral de expatriados pernambucanos onde as tensões raciais, sociais e históricas emergem como espelhos de um Brasil que já não possui mais um ‘comum’ para compartilhar”.


O dramaturgo Leo Lama, responsável pelo texto de apresentação da obra, destaca a originalidade de Meio do Céu:


“Explicitar se é tragédia, comédia, drama, isso ou aquilo, é diminuir a obra; 

melhor evidenciar a mistura. Do cômico surge o dramático, que pare o patético e o inesperado poético. Difícil é não se enredar nessa trama, que vai envolvendo enquanto descostura nossas certezas”. 


E como sublinha a crítica cultural e curadora Angélica de Moraes: 

“É uma visão ácida entre dois mundos: de onde se veio e onde se está. É o outro, o estranho, o caleidoscópio de uma e muitas realidades. Leiam. Inquietação garantida”. 


Com carreira já consolidada na literatura brasileira — autor dos romances Corrida do Membro (2007) e Um Nazista em Copacabana (2016), semifinalista do Prêmio Oceanos — Ubiratan Muarrek reafirma aqui sua aposta na tragicomédia como lente para o Brasil contemporâneo: 


“Nas raízes da comédia há uma capacidade de perigo muito mais ameaçadora do que qualquer sentimento gerado pela tragédia. Tempos ameaçadores, arte ameaçadora — ao invés de arte ameaçada. Daí a minha escolha pelo tragicômico”. 


Ao fazer dos recifenses o centro do seu projeto literário, Muarrek — ele próprio paulista — devolve ao Recife, nesta noite de 30 de junho, uma narrativa que, ao mesmo tempo, o reconhece e o confronta.



Ubiratan Muarrek


Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Mídia e Comunicação pela London School of Economics, na Inglaterra, e em Dramaturgia pelo Célia Helena (São Paulo), Ubiratan Muarrek é escritor, jornalista, produtor executivo de cinema e roteirista em desenvolvimento, já envolvido com filmes e documentários. Na sua carreira literária, Muarrek tornou-se conhecido pelos elementos de drama e tragicomédia, presentes em seu romance de estreia Corrida do Membro (Objetiva, 2007), e, novamente, na obra Um Nazista em Copacabana (Rocco, 2016), que esteve entre os semifinalistas do Prêmio Oceanos de 2017.



Ficha Técnica


Editora: Assírio e Alvim | ISBN: 978-6584832213

Nº de págs: 210 | Idade recomendada: 10+

Preço: R$69,90 | Edição: 1ª - 2024





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