[News] FILME QUE MOSTRA COMO A DITADURA MILITAR SEPAROU FAMÍLIAS INDÍGENAS ESTREIA EM 10 DE JULHO
Estreia em 10 de julho nos cinemas brasileiros o documentário YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ, filme indígena que retrata uma história de separação forçada durante a ditadura militar. Com direção assinada por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna, o filme mostra a busca da diretora Sueli e sua irmã Maiza pelo pai, Luiz Kaiowá, de quem foram separadas ainda na infância pelos efeitos das políticas do regime militar.
Luiz Kaiowá, indígena guarani kaiowá, foi removido à força de seu território no sul do Mato Grosso do Sul no início dos anos 1960 por agentes do Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Após uma travessia que passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, foi levado ao Posto Indígena Mariano de Oliveira, em Minas Gerais, onde viveu por mais de 15 anos entre os Tikmũ’ũn (Maxakali). Casou-se, teve duas filhas e, pouco depois do nascimento de Sueli, sofreu um novo deslocamento forçado e agora foi obrigado por agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) a permanecer em seu seu território de origem, o que cortou seu vínculo com a família.
Sueli e Isael Maxakali, artistas do cinema indígena contemporâneo, vêm construindo uma linguagem própria, com filmes como “Yãmĩyhex: As Mulheres-Espírito” e “Nũhũ yãg mũ yõg hãm: Essa Terra é Nossa!”. Em 2016, a dupla fez sua primeira incursão pelas memórias da violência vivida pelos povos indígenas durante a ditadura com o documentário “GRIN – Guarda Rural Indígena”, dirigido por Isael Maxakali e Roney Freitas. No novo filme, eles dividem a direção com Luisa Lanna, montadora e professora experiente na formação audiovisual em territórios indígenas, e de Roberto Romero, antropólogo e documentarista.
As filmagens foram realizadas tanto na Aldeia-Escola-Floresta, retomada em 2021 por cem famílias maxakali em Minas Gerais, quanto nas Terras Indígenas Panambi-Lagoa Rica, Panambizinho e Laranjeira Ñanderu, do povo Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul – dois territórios ainda hoje marcados pelas graves violações de direitos humanos que sofreram no período militar. Essas violências, que incluem o esbulho de terras e remoções forçadas, vieram à luz em 2014, quando foi publicado o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou os casos Maxakali e Guarani Kaiowá, entre outros povos. “A gente assistiu a um filme sobre um deputado que fala 'Ainda estou aqui'. A gente também fala que nós também estamos aqui. O povo Maxakali, o povo Kaiowá estão aqui”, discursou Sueli Maxakali durante o Festival de Brasília.
Lançado em um momento em que as reivindicações indígenas por memória, verdade e justiça voltam a ganhar corpo, o documentário apresenta essas narrativas do passado por meio de de longos planos fixos, gestos íntimos e câmeras que acompanham o movimento dos corpos e das falas. “O espectador aprende a ver o filme enquanto assiste”, afirma a diretora Luisa Lanna. “É um aprendizado que se dá pela escuta, pela duração dos planos, pelas formas de elaboração da palavra”.
Para a antropóloga e roteirista Tatiane Klein, que participou da articulação entre os dois territórios e que integra um fórum liderado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) sobre o tema, o filme é um exemplo de investigação e escuta das histórias da ditadura pelos próprios realizadores indígenas. “Se não nos aprofundarmos nessa memória indígena, seguindo os modos próprios de cada povo olhar para esse passado de violências, o futuro dos Guarani Kaiowá, dos Maxakali, do Brasil indígena continuará em risco”.
Sinopse:
YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ conta a busca de Sueli Maxakali e Maísa Maxakali pelo pai, Luis Kaiowá, de quem foram separadas durante a ditadura militar no Brasil. O filme acompanha a jornada da cineasta para reencontrar o pai, bem como as lutas enfrentadas pelos povos indígenas Tikmũ’ũn e Kaiowá em defesa de seus territórios e modos de vida.
Ficha Técnica
YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ
(2024 | Brasil | 94 min | Documentário)
Direção: Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero, Luisa Lanna
Direção assistente: Daniela Kaiowá, Michele Kaiowá
Roteiro: Sueli Maxakali, Roberto Romero, Tatiane Klein e Luisa Lanna.
Produção: Escola Aldeia Floresta, Batráquia Filmes, Filmes de Quintal, Javali do Mar
Direção de fotografia: Bené Machado, Sueli Maxakali, Michele Kaiowá, Daniela Kaiowá e Alexandre Maxakali
Som direto: Bruno Vasconcelos, Maru e Vitor Zan
Montagem: Luisa Lanna
Tradução: Alexandre Maxakali, Roberto Romero, Tatiane Klein, Michele Kaiowá e Daniela Kaiowá
Distribuição: Embaúba Filmes
Estreia nos cinemas: 10 de julho de 2025
País: Brasil
Idioma: Maxakali, Kaiowá, Português (com legendas)
Classificação: não recomendada para menores de 12 anos
Elenco: LUIZ KAIOWÁ, JAIRO BARBOSA, MICHELE KAIOWÁ, QUENIO VERGA CONCIANZA, GERMANO LIMA ALZIRO, JURACI MAXAKALI, DELCIDA MAXAKALI, CASSIEL MAXAKALI, CLARA BARBOSA DE ALMEIDA, EMILIANA BARBOSA, OLÍMPIO ALMEIDA, CLAUDILENE JORGE ALMEIDA, HILDA BARBOSA DE ALMEIDA, RICARDO JORGE, NEUSA CONCIANZA JORGE (IN MEMORIAM), EZEQUIEL JOÃO, ADELAIDE JORGE (IN MEMORIAM), DETINHA MAXAKALI, RUAN MAXAKALI, NICOLE MAXAKALI, ISAIANA MAXAKALI, ARLANE JORGE JOÃO, GISLAINE PEDRO FERREIRA, DANIELA KAIOWÁ, SUELI MAXAKALI, ISAEL MAXAKALI, MAÍSA MAXAKALI.
SOBRE OS DIRETORES
SUELI MAXAKALI
Sueli Maxakali é doutora em Letras: estudos literários (Notório saber) pela UFMG, cineasta, professora e multiartista. Dirigiu o curta Yãy tu nũnãhã payexop: encontro de pajés e co-dirigiu os longas Quando os yãmĩy vêm dançar conosco (2011), Yãmĩyhex: as mulheres-espírito (2019) e Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020). Publicou o livro de fotografias Koxuk Xop Imagem (Beco do Azougue Editorial, 2009). Foi artista convidada da 43ª Bienal de Arte de São Paulo e do 7º CURA – Circuito de Arte Urbana de Belo Horizonte. Em 2020, liderou um movimento de mais de cem famílias do povo Tikmũ’ũn-Maxakali na luta por uma nova terra. Em 2021, estas famílias retomaram um território ancestral na região de Itamunheque (Teófilo Otoni, MG), onde criaram a Aldeia-Escola-Floresta, projeto de arte, educação e agroecologia.
ISAEL MAXAKALI
Isael Maxakali é doutor em Comunicação (Notório saber) pela UFMG, cineasta, professor e artista visual. Dirigiu os filmes “Tatakox” (2007); “Xokxop pet” (2009); “Yiax Kaax – Fim do Resguardo” (2010); “Xupapoynãg” (2011); “Kotkuphi” (2011); “Yãmĩy” (2011); “Mĩmãnãm” (2011); “Quando os yãmĩy vêm dançar conosco” (2011); “Kakxop pit hãmkoxuk xop te yũmũgãhã” (“Iniciação dos filhos dos espíritos da terra”, 2015), “Konãgxeka: o Dilúvio Maxakali” (2016) e “Yãmĩyhex: as mulheres-espírito” (2019) e Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020). Foi duas vezes professor do Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG. Em 2020, venceu o Prêmio PIPA on-line, uma das principais premiações de arte contemporânea no Brasil.
ROBERTO ROMERO
Roberto Romero é doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ), membro da Associação Filmes de Quintal e um dos organizadores do forumdoc.bh – festival do filme documentário e etnográfico de Belo Horizonte. Foi assistente de direção do longa “Yãmĩyhex: as mulheres-espírito” (Sueli e Isael Maxakali, 2019) e co-diretor de Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020) e “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” (2024).
LUISA LANNA
Luisa Lanna é graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestranda no Programa de Pós Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ). Atua como montadora, educadora e diretora audiovisual. Se dedica ao ensino e à prática de cinema junto a comunidades indígenas. Faz parte do Coletivo Guahu’i Guyra (Encanto dos Pássaros) da retomada Tekoha Guayvyry (Guarani e Kaiowá), no qual atua como professora e colaboradora artística. Foi montadora do filme “Yamiyhex: mulheres espírito” (Dir. Sueli Maxakali e Isael Maxakali). Co-dirige o longa metragem “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” (2024).
SOBRE A EMBAÚBA FILMES
A Embaúba Filmes é uma distribuidora especializada em cinema brasileiro, criada em 2018 e sediada em Belo Horizonte. Seu objetivo é contribuir para a maior circulação de filmes autorais brasileiros. Ela busca se diferenciar pela qualidade de seu catálogo, que já conta com mais de 50 títulos, investindo em obras de grande relevância cultural e política. A empresa atua também com a exibição de filmes pela internet, por meio da plataforma Embaúba Play, que exibe não apenas seus próprios lançamentos, como também obras de outras distribuidoras e contratadas diretamente com produtores, contando hoje com mais de 500 títulos em seu acervo, dentre curtas, médias e longas- metragens do cinema brasileiro contemporâneo.
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