[News] Eduardo Barchiesi: escritor paulistano fala de “Vida Moinho”, obra sobre a complexidade das relações humanas

 

“Vida Moinho” (106 págs.) dá continuidade à carreira literária do escritor e engenheiro metalúrgico Eduardo Barchiesi (@eduardo_barchiesi). Composto por um pouco mais de 40 poemas e publicado de maneira independente, esse poemário trabalha a vida e a subjetividade humana a partir do encontro do trágico e do cômico. Com uma ironia fina e jogos de palavras, a obra explora o eu a partir dos encontros e desencontros do eu com o Outro.

Para o autor, o livro aborda o drama desse Eu persona poética em suas relações tragicômicas com um Tu (representado pelo próximo) e com alguns Eles (que são os outros) num contexto bem comezinho. A partir desse jogo, os poemas apontam as possíveis consequências dessas interrelações na vida das pessoas, tratando assim daquilo que constrói, define e afeta a subjetividade humana.

Aos 81 anos, Eduardo Barchiesi é engenheiro, mestre e doutor em metalurgia (Politécnica USP), além de bacharel em letras (português-latim FFLCH USP). Começou a escrever textos literários publicamente em 2004, mas somente a partir de 2008 passou a se dedicar à poesia, sendo hoje parte da equipe de poetas da Fazia Poesia. Sua estreia literária se deu com o romance Demanda Furibunda (Edições Inteligentes, 2005) e foi sucedida por outras treze publicações, entre romance, conto, infantil e poesia. 


Leia, abaixo, uma entrevista completa com o autor falando sobre “Vida moinho”.

Quais são os temas centrais de “Vida moinho”e de que maneira eles se articulam na construção das personas poéticas que o habitam?

Genericamente, o drama do Eu persona poética em suas relações tragicômicas com um Tu  (o próximo) e Eles (os outros)  num contexto comezinho, para apontar as possíveis consequências dessas interrelações na vida das pessoas, representadas literariamente por essas personae.

“Vida moinho”, goza da especificidade da liberdade temática. Transita, por exemplo, pelo tema do amor, pelo tema do racismo, da desigualdade social, da degradação do meio ambiente, da finitude da vida. Esses temas, colhidos no campo do complexo comportamento humano, criam personae poéticas apaixonadas, cínicas, meditativas, cômicas, irresponsáveis.


O que impulsionou a escrita desta obra e por que abordar estes temas?

Comecei a escrever a obra para dar continuidade ao meu processo criativo literário. Processo ora fluente, ora emperrado. Ora feliz, ora penoso. Como sói acontecer. Levou uns dois anos, mais ou menos, para considerar a obra finalizada. .

Acredito que estes temas representam a Vida em sua sublimidade e sua natureza grotesca. O amor pode ser sublime como no poema Amor crepuscular, cínico como no poema Amor fraternal e escatológico como no poema Amor visceral. O poema que dá título ao livro, e faz coro com uma canção popular, aponta para a dureza e a finitude da vida.


Que reflexões e provocações você acredita que os leitores podem extrair da leitura de “Vida moinho”?

O ser humano é um gigante ANÃO. Capaz de ações boas e belas, e outras catastróficas.É uma espécie que prima pela contradição. Oscila entre o bem e o mal. E, na visão do poeta, o mal é energeticamente mais favorável do que o bem. A leitura não precisa necessariamente seguir a linearidade das páginas do livro. Cada poema encerra em si uma mensagem. O poema de abertura traz, na confissão de um Eu, a dificuldade de se acreditar em dias amenos, sem o contágio da ingenuidade. Na sequência, vem um poema que apresenta uma receita de felicidade eterna para se viver com alguém que se ama. Mais adiante, evoca o grave problema social do abandono infantil. Lá pelas tantas, a poluição das águas e do ar, resultado da irresponsabilidade e da ganância inerentes ao ser humano. E assim vai...


O que este livro representa em sua trajetória e como a bagagem dos livros anteriores ajudou na construção de “Vida moinho”?

Este livro é mais alguns grãos de areia fluídos na minha ampulheta, provocando transformações que permitiram reflexões sobre a felicidade de viver e a tristeza inerente ao processo.

Talvez “Vida Moinho” tenha diminuído um pouquinho minha imaturidade. A escrita literária que me acompanha tem uma dualidade tragicômica, com tendência ao pessimismo e à ironia. Em livros anteriores, em algumas situações, a dosagem dessas características, talvez tenham se manifestado com maior intensidade, fruto até, quem sabe, de circunstâncias esdrúxulas às quais passamos. Nosso inexorável companheiro, o tempo, vezes há, que nos auxilia a arredondar algumas esquinas.


Por que escolheu a poesia como gênero literário? Como se deu essa aproximação ao longo do tempo?

Eu não a escolhi. Ela que pouco a pouco foi me colhendo e me proporcionando o entendimento de seu vigor como manifestação artística capaz de representar pela palavra a complexidade da vida de maneiras tão multifacetadas. Pela sonoridade das palavras, pela cadencia das palavras, pela ambigüidade do significado das palavras, pela brevidade ou extensão do texto, pela disposição topográfica das palavras na página.


Quais expressões artísticas e literárias mais impactaram sua escrita? Há obras ou autores que dialogam diretamente com este livro?

A interação com a pintura, a escultura e a literatura do Modernismo. A mixórdia que elas produziram em meu cérebro.   “Vida moinho” exprime experiências da vida da pessoa poeta, como em Amor crepuscular, mescladas com criações da persona poética da pessoa poeta, como em Pavio curto. Alguns poemas dialogam com obras de autores como, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Agenor de Oliveira.


Quando começou sua jornada literária e como você definiria seu estilo de escrita?

Publico textos literários desde 2005. Quando retornei para a faculdade (de Letras), depois de diplomado há anos em área tecnológica (Engenharia Metalúrgica).

Considero meu estilo simplório, desenvolvido para transmitir uma mensagem que consiga sensibilizar o receptor. Em geral não é estabelecida uma estrutura engessada num tema. É dada liberdade aos poemas para que se fecundem naturalmente. Uma vez fecundados, podem evoluir para um parto vaginal, ou cesariano. Pode também acontecer a necessidade de aborto.


Quais são os seus projetos atuais de escrita? 

No momento estou trabalhando em um  livro de poesia, com poemas que procuram seguir de perto um tema específico. Não posso falar muito mais do que isso. 






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