[News]Parque Susana Naspolini, em Realengo, recebe a exposição Artes da Terra, apresentando importantes nomes da arte popular brasileira
Parque Susana Naspolini, em Realengo, recebe a exposição
Artes da Terra, apresentando importantes nomes da arte popular brasileira
Ação faz parte do projeto ArtRio Educação, com foco em levar
a diversidade da produção artística brasileira para novos públicos
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O projeto ArtRio Educação apresenta a exposição Artes da Terra, falando sobre a trajetória e as obras de grandes mestres da arte brasileira, de norte a sul do país. A mostra fica até o dia 31 de maio no Parque Susana Naspolini, em Realengo. Seguindo seu compromisso de acessibilidade e levar informação sobre arte a novas audiências, a ArtRio apresenta uma mostra interativa que leva conhecimento – e diversão – para um espaço público, aberto a todos. Já estão agendadas com a Secretaria Municipal de Educação a visita de alunos de 20 escolas públicas da região, proporcionando novas descobertas.
A curadoria da mostra é de Paulo Tavares. Artes da Terra traz grandes paineis contando a história da vida e obra de artistas como Mestre Vitalino, J.Borges, Dona Roxinha, Dona Izabel, Getulio Damado, Maria Auxiliadora da Silva, Maria Lira Marques e Véio. Através de seus trabalhos, das múltiplas técnicas e o uso de matéria-prima local de suas residências, os artistas transmitem suas realidades e o mundo ao seu redor – ensinam sobre cultura regional, meio ambiente e sociedade.
Parque Susana Naspolini
R. Prof. Carlos Wenceslau, 290
Realengo
Até 31 de maio
A Dream Factory está à frente da realização de todas as ações da ArtRio
Bonde art Getúlio Damado |
Conheça os artistas da mostra Artes da Terra
Vitalino Pereira dos Santos, Mestre Vitalino (1909 – 1963)
Vitalino nasceu em Caruaru (PE) em 1909 e desde cedo foi apresentado ao material que um dia lhe faria famoso – produzia seus próprios brinquedos com as sobras do barro que sua mãe usava.
Depois de tanto fazer seus bonecos e composições de cenas, ou “conjuntos”, para vender na feira de Caruaru, recebeu, em 1947, convite para apresentar suas criações no Rio de Janeiro e São Paulo. Sua vida ali começou a melhorar.
Sua criação mais icônica e reconhecida seja o boi - uma figura imponente, grandiosa e de postura firme, símbolo do sertanejo.
Considerado o maior nome da arte popular figurativa brasileira, apresentou de forma muito especial em seus bonecos de barro, o povo nordestino, sua cultura e seus costumes
Izabel Mendes da Cunha, Dona Izabel (1924 – 2014)
Nasceu no município de Itinga, Vale do Jequitinhonha (MG) em 1924. Nessa região, a tradição da manufatura em argila é comumente passada de mãe para filhas. Com o passar dos anos, o trabalho com o barro se transformou em sua principal fonte de renda, tornando-se paneleira, assim como sua mãe, avó e bisavó.
Após ficar viúva, mudou-se com os filhos para Santana do Araçuaí, também no Vale do Jequitinhonha. Na década de 70 começaram a surgir suas bonecas – inicialmente moringas que assumiam a forma de mulheres, com a cabeça fazendo o papel de “tampa” –, e as noivas, que se tornaram sua marca. Essa foi a maneira que encontrou de se diferenciar. Dona Izabel passou então a sofisticar suas criações utilizando mais detalhes e cores diferentes, resultado do uso da técnica do engobo, ou “água de barro”, em que dissolvia material vindo de diversas fontes de barro, para usá-lo como tinta, conferindo também um brilho característico às peças.
Cícero Alves dos Santos, Véio (1947)
Nascido em Nossa Senhora da Glória (SE), ganhou o apelido de Véio ainda criança. Gostava de conversar com os mais velhor para poder ouvir histórias do sertão contadas pelos mais antigos – lobisomem, caipora, fogo corredor... Com isso nasceu o interesse pela preservação da memória da região. Gostava de fazer pequenos bonecos com cera de abelha, mas os desmanchava assim que alguém se aproximava – menino tinha que trabalhar na roça... Foi vender suas primeiras peças consideradas obras de arte lá nos anos 1980.
Explica, sabiamente, que as madeiras novas trazem o valor da juventude e já as velhas, fragilizadas pela ação do tempo e da natureza, mostram a parte final da vida. Para suas criações costuma seguir por um dos dois caminhos: ou imagina uma cena real e a esculpe em pedaços de tronco ou madeira descartada – que podem ir de poucos milímetros a mais de 2 metros de altura, ou antevê expressões de seres nas madeiras e raízes quase in-natura que busca nos arredores de seu sítio. Nessas peças intervém muito pouco.
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Getúlio Damado (1955)
Nasceu na cidade mineira de Espera Feliz. Nos anos 80, veio para o Rio de Janeiro, para o bairro de Santa Teresa (RJ), onde montou uma banca em que consertava panelas e outros utensílios. Sempre foi encantado com os bondes e trens que via por onde passava, então começou a pegar coisas que encontrava pelos caminhos e decidiu confeccionar um bonde de madeira reaproveitada.
Seus amigos passaram a se interessar pelas peças e as encomendavam para ele. Tudo que vê e recolhe pode ser transformado em bonecos, quadros, objetos – todos com história e nomes que dá e que fazem parte de seu universo. São referências as cenas do bairro, mas também suas lembranças de Minas Gerais, seus amores...
Maria José Lisboa da Cruz, Dona Roxinha (1956)
Nascida no povoado de Lagoa da Pedra, em Alagoas, costuma pintar cenas do cotidiano – tanto as que resgata de sua memória, como as que vê ao seu redor. Diz começou a fazer os registros porque gostava de passear pela cidade com seu marido e à noite, quando voltavam para casa, faziam sua “resenha” regada a desenhos em cadernos e risadas. Esses cadernos infelizmente foram esquecidos “na mata”, quando achou que nunca seria uma artista de verdade...
Faz críticas divertidas sobre a política, a sociedade, as relações amorosas, sempre colocando protagonismo nas mulheres que estão sempre presentes em seus trabalhos.
José Francisco Borges, J. Borges (1935)
Nascido em1935 na cidade de Bezerros, no agreste pernambucano, J. Borges é reconhecido como um dos maiores nomes da xilogravura e da literatura de cordel.
A xilogravura é uma técnica ancestral, provavelmente de origem chinesa, mas que veio para o Brasil através dos portugueses, e que consiste em esculpir uma placa de madeira (matriz), umedecendo-a posteriormente com tinta e a pressionando contra uma folha de papel, criando imagens como um “carimbo.
Seu imenso universo criativo é habitado por seres imaginários, animais, anjos e demônios, vaqueiros, pessoas simples e personagens do lendário nordestino.
Já produziu mais de 300 folhetos de cordel e milhares de xilogravuras, que circularam o mundo, chegando a ser comparadas ao trabalho de Pablo Picasso pelo jornal americano The New York Times, em matéria de 2006, mesmo ano em que foi reconhecido como Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco.
Maria Auxiliadora da Silva (1935 – 1974)
Nascida em Campo Belo, Minas Gerais, Maria Auxiliadora mudou-se ainda bem nova para São Paulo com sua numerosa família de artistas – sua mãe era escultora, pintora e bordadeira. Ainda criança precisou deixar a escola para auxiliar no sustento de casa. Passou então a trabalhar como empregada doméstica e depois como bordadeira numa fábrica. Mas foi através da pintura que ela pode se expressar, retratando cenas do cotidiano urbano e rural, além de temas afro-brasileiros e populares, onde pessoas comuns assumiam o protagonismo.
Experimentou técnicas inovadoras em seus trabalhos, adicionando camadas grossas de tinta ou massa acrílica misturadas com mechas de seu próprio cabelo ao pintar, conferindo relevo e tridimensionalidade às figuras e formas. Também explorou a utilização da escrita em suas obras, incluindo diálogos em “balões” nas telas, como nas histórias em quadrinhos, mostrando profunda perspicácia em relação às mídias e maneiras de comunicação de sua época.
Maria Lira Marques (1945)
Ouvindo cantos de roda, que sua mãe cantava enquanto passava roupas para clientes, foi que Maria Lira Marques, nascida em Araçuaí, Médio Vale do Jequitinhonha, no ano de 1945, foi aprendendo a tomar gosto pela cultura popular local. Sua mãe era lavadeira e seu pai, sapateiro.
Também com ela começou a aprender o ofício da criação de pequenos presépios que preferia fazer com cera de abelhas, que seu pai usava nas costuras dos sapatos. Mas foi com a chegada de Frei Chico, de origem holandesa, à paróquia que se sentiu ainda mais segura para seguir tanto no caminho da produção de arte, como na relação que tem com a música e a pesquisa das expressões culturais da região.
Sua obra tem influências africanas e indígenas. As máscaras de cerâmica preencheram boa parte de sua produção inicial. A partir dos anos 90, passou a realizar pinturas em papel e sobre pedras que recolhia, como sua principal forma de expressão. Os pigmentos usados são naturais, vindos do barro. As formas, algo como as pinturas rupestres a que ela nomeou de “Bichos do meu Sertão”, numa série contínua de imagens ao mesmo tempo líricas e fortes, suaves e rudes, que demonstram a sua constante busca por entender sua ancestralidade.
Sobre o curador Paulo Tavares
Carioca, pesquisador e colecionador, Paulo Tavares é formado em Engenharia (PUC-RJ), com pós-graduação em Gestão de Negócios (FGV-RJ) e História da Arte (UCAM-RJ). Sua coleção conta com quase 400 obras de arte contemporânea e popular brasileira – parte dela exposta virtualmente em @obscontemporanea (Instagram) de forma permanente e interativa.
Lançou a GIM – Galeria Imaginária. Atuando no campo da arte popular contemporânea e do design artesanal, busca também uma valorização da nossa terra, seus personagens e heróis anônimos, sua cultura e histórias de vida, mas, principalmente, procura dar visibilidade a grandes talentos e à uma produção artística pujante e necessária.
Ipê Amarelo Comunicação
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