|Crítica| 'Bolero: A Melodia Eterna' - Direção de Anne Fontaine (2025)

 


Sinopse: Em 1928, nos vibrantes “anos loucos” de Paris, a coreógrafa Ida Rubinstein encomenda a Maurice Ravel a música para seu próximo balé. Enfrentando uma crise de inspiração, o compositor revisita os capítulos de sua vida – os desafios de seus primeiros anos, as marcas da Grande Guerra, o amor impossível por sua musa Misia Sert… e finalmente decide se dedicar à criação de uma obra-prima universal, o Bolero.


Bolero: A Melodia Eterna é uma cinebiografia que percorre boa parte da vida do compositor Maurice Ravel, com foco especial na construção da música que o eternizou. Raphaël Personnaz interpreta Ravel com delicadeza e precisão, revelando um artista meticuloso e sensível, cercado por figuras femininas marcantes como Misia Sert (Doria Tillier) e Ida Rubinstein (Jeanne Balibar). As relações são retratadas com respeito e afeto, ajudando a construir um personagem complexo e fascinante. O ritmo sereno do filme combina com a natureza introspectiva do compositor, e a direção de arte, o figurino e a fotografia contribuem para criar uma atmosfera refinada, que valoriza cada detalhe da época e da personalidade de Ravel.

O filme também acerta ao destacar as excentricidades do compositor, como sua obsessão por sapatos ou sua aversão ao toque, o que o torna ainda mais humano e único. Embora o uso da trilha sonora pudesse ser mais ousado em certos momentos — especialmente durante a primeira execução do Bolero — a escolha por uma abordagem mais contida pode ser vista como coerente com o estilo do protagonista. Ainda assim, a força da música permanece, conduzindo a narrativa com sutileza e elegância.

O filme de Anne Fontaine oferece um retrato elegante e contemplativo do compositor francês Maurice Ravel — um gênio reservado, cuja obra mais célebre ultrapassou em muito a fama de seu criador. A escolha de iniciar o longa com diversas versões da peça cria um elo imediato com o espectador, lembrando que, mesmo que o nome de Ravel não esteja na ponta da língua, sua música está presente no imaginário coletivo.

No último ato do filme temos uma sequência visual e sonora envolvente que rompe a contenção anterior e entrega uma experiência sensorial memorável. Ravel rege sua obra em um cenário quase onírico, com músicos e bailarinos que reforçam o caráter eterno e transformador do Bolero. Bolero: A Melodia Eterna é, acima de tudo, uma homenagem sensível a um artista singular — e uma celebração de como a música, mesmo nascida da repetição, pode se tornar inesquecível.

Veja o trailer:



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