[Resenha] O Mundo Explicado Por T.S. Spivet

Sinopse: “O Mundo Explicado por T.S. Spivet” narra uma viagem, mas, sobretudo, uma história de partida e recomeço. As pedras, as relações humanas,as conquistas, a busca pelo conhecimento, o embate entre fé e ciência, os fluxos e movimentos da tristeza, da solidão e do amor tentam ser “mapeados”, ou melhor, “explicado”. É um livro que pontua a necessidade de sairmos, mesmo que por algum tempo, de nossos “lares”, de dentro de nós mesmos, para percebemos, realmente, quem somos e, sobretudo, como é o mundo, quem são os outros.

O que eu achei?
“O Mundo Explicado Por T.S. Spivet”, de Reif Larsen lançado pela Nova Fronteira foi uma das descobertas que mais me surpreendeu esse ano, visto que comprei o livro em uma feira há mais de um anos, apenas por seu conteúdo de margem da história. Mas vamos por partes.
T.S. Spivet é um jovem cartografo prodígio que vive com sua família em um rancho em Montana, filho de um 'cowboy' e uma cientista que está as voltas com uma busca infrutífera; é irmão de uma jovem temperamental e de um mini-cowboy, morto tragicamente. Só essa mistura já renderia uma grande historia de contrastes, mas há muito a ser explorado. Ah, T.S. – como é chamado – tem apenas 12 anos. Quando decide ir a Washington para receber o premio cedido pelo Smithisonian, ele foge escondido e atravessa mais de 3 mil quilômetros escondido em um trem, e nessa viagem, ele irá descobrir muito mais sobre sua família e si mesmo do que o mundo que ele cataloga com tanto afinco.
O livro é divido em três partes, “Oeste”, “A Travessia” e “O Leste”, e cada um tem um peso incrível na história e na vida de T.S. A primeira parte nos serve de apresentação, onde conhecemos a vida no rancho e os hábitos e personalidades da família Spivet, tudo minuciosamente explicado pelo próprio T.S. Aos poucos vamos descobrindo seus hábitos e suas habilidades, e o contraste que há dentro daquela família de pessoas tão singulares.
A segunda parte se dá durante todo o trajeto de trem, onde T.S. se encontra pela primeira vez sozinho, encarando o mundo desconhecido – mas sem perder seu hábito de esquematizar absolutamente tudo, nos menores detalhes. É aqui que a história ganha contornos mais complexos, e antigos segredos de família são visitados. A parte final do livro mostra a conquista de T.S. em sua jornada, e tudo aquilo que ele ganhará ao finalmente atingir seus objetivos.
Mas a história, tão cuidadosamente dividida, vai muito além da fuga de um menino prodígio em busca de um premio muito desejado. É a viagem de uma mente cientifica incansável e que se sente completamente deslocado dentre de seu próprio lar, por mais que conheça cada grão de areia e cada forma no horizonte, desde de sua causa até seu efeito. A viagem e a chegada se mostrará muito mais que apenas um destino e um premio ao seu fim. Será uma autodescoberta, uma autocompreensão, a percepção e compreensão do real significado de lar, de pertencer, de familiaridade e conforto através dela. A mente, que é ao mesmo tempo cientificamente madura, mas socialmente juvenil, irá enfrentar dilemas e questionamentos mais pessoais do que científicos, longe do deslumbre que o mito das conquista prometia no longínquo rancho da família.
A principio o livro parece ser parado e bagunçado, pois nas margens há diversas anotações e ilustrações do próprio T.S., mas com o passar do tempo é possível notar o quão importante essas informações extras são para o desenvolvimento da história e sobre a história em si, tanto do jovem quanto da família, principalmente do passado de todos. O livro é riquíssimo em detalhes, e transita entre o drama e a ironia com uma facilidade incrível, mantendo no mesmo nível e sempre em equilíbrio a mesma dose de pensamento cientifico e juventude. Além disso, há até um certo tom de mistério que surge no fim do livro, o que foi super divertido na história.
Todo o livro tem uma pegada complexa, tratando desde traumas passados até conflitos familiares; abordando cientificamente assuntos como tirar a palha dos milhos quanto o surgimento e noções dos buracos-de-minhoca no Centro-Oeste norte-americano; de partidas, chegadas, recomeços e perdão. Visualmente, é um trabalho lindo, rico e encantador ao extremo, que por mais que pareça cansativo ou muito longo, é impossível deixar de acompanhar. Sem dúvida, uma das viagens mais incríveis que eu já fiz.

Obs.: A história foi adaptada em filme em 2014 sob o título “Uma Viagem Extraordinária”.

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