Quando eu descobri que eu era uma boa companhia

Você sabe, sempre odiei fazer qualquer coisa sozinho. Já deixei de ver aquele filme alternativo, porque nenhum amigo se interessou em ir. Já deixei de comer, mesmo com fome, porque ninguém queria me acompanhar. Já atrasei algumas contas, porque pouco antes do vencimento ninguém estava disponível para ficar comigo na fila. Sempre fui assim. Gosto de falar, de ouvir, de falar de novo. Gosto de estar rodeado de pessoas, de dar opinião e de ouvir algumas também. Mas nem sempre eu posso desfrutar disso, certo? Desde quando eu mudei de cidade, de estado, de doutrina, de crença, tenho aprendido muitas coisas. E, às vezes, tenho aprendido sem perceber. Semana passada liguei para uma amiga e a convidei para dormir comigo, aqui em casa, simplesmente porque a casa estaria sozinha e eu não queria dormir sozinho. Mesmo apagando poucos minutos depois dela chegar, gosto de saber que tem alguém perto. Alguém ao meu alcance. E hoje a casa estava sozinha... Mas hoje fiz diferente! Hoje não liguei para ninguém. Não procurei ninguém. Não convidei ninguém. Hoje eu me arrumei para mim, me perfumei para mim, e gostei do que vi no espelho. Hoje eu não conversei com ninguém, apenas comigo mesmo, ouvindo minha playlist no celular. Hoje fui ao cinema, ri sozinho, e fiz comentários que não precisavam de respostas. Depois, pasme você, comi sozinho!!! Pedi aquele hamburger maravilhoso do Burger King, cheio de maionese, do jeito que eu gosto. Comi a batata-frita, sem roubar a sua, é claro, porque você não estava lá. E, olhe só, descobri um lindo e novo passatempo. Olhar as pessoas, e, mentalmente, imaginar histórias para as suas vidas. É incrível e saí desse meu passeio com várias ideias e algumas certezas. A primeira foi que eu posso ser feliz comigo mesmo. A segunda é que eu sou uma boa companhia. Aeeee! A terceira é que eu te quero do meu lado não por necessidade, carência, sentimento de posse ou saudade. Quero você do meu lado porque gosto da sua companhia, gosto das teorias que você inventa depois de um filme, gosto como você faz cara feia quando roubo uma batata, ou como os buracos do seu nariz ficam estranhos quando você dá risada. Gosto como seu olhar encontra o meu, com aquele ar de reconhecimento de que pensamos a mesma coisa sobre a questão mais aleatória do mundo. Pois é. Lide com isso. Gosto de você e te quero desse jeito mais simples e descomplicado que existe. E só para constar: as batatas-fritas que roubo de você são sempre as mais gostosas.

Vinícius Grossos




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