[Entrevista] Larissa Santos, astrofísica e autora de "De onde surgem as grandes ideias"?

 

Foto: Divulgação/Facebook

Larissa Santos é uma astrofísica brasileira que mora há uma década na China e é professora na Universidade de Yangzhou. Ela estará em Brasília na sexta, dia 10 de maio, às 19h, na Livraria da Travessa do Casa Park, para lançar seu primeiro livro," De onde surgem as grandes ideias?", publicado pela editora Labrador, disponível no site da editora e na Amazon.

Nossa colaboradora fez uma entrevista com ela:


1) Como o método científico pode ser aplicado no nosso dia-a-dia e como ele pode facilitar nossas vidas?

O método científico é um processo que guia os cientistas na investigação precisa e confiável de um fenômeno natural, por exemplo. Isso inclui os pesquisadores na área da medicina que usam métodos científicos para testar novos tratamentos e terapias para diversas doenças. As mudanças climáticas, que tanto têm nos afetado, também são estudadas através do método científico. Os pesquisadores coletam e analisam

dados sobre temperatura e níveis de CO2, por exemplo, para compreender tendências e fazer previsões sobre mudanças futuras. De maneira simples, o método científico segue alguns passos: observação, formulação de perguntas, desenvolvimento de hipóteses, experimentação e coleta de dados, análise dos resultados e as conclusões que tiramos. Veja que esses passos são utilizados em várias situações, incluindo no nosso dia-a-dia. Se sua geladeira não estiver funcionando, por exemplo, a primeira hipótese pode ser que haja algo errado com a tomada elétrica. Se esse for o caso, a previsão é que outros aparelhos, como a cafeteira, também não funcionem quando ligados na mesma tomada. Se a cafeteira não funcionar, a hipótese é apoiada. Se funcionar, hipóteses alternativas podem incluir problemas com a própria geladeira ou a energia elétrica foi cortada. A partir de observações, hipóteses e análises, podemos tirar algumas conclusões. Fazemos isso o tempo todo.

2) Cosmologia é um ramo do conhecimento um tanto diferente. O quê te fez se interessar pela área?

Eu me interesso pelo universo desde criança. Quem nunca olhou para o o céu em uma noite estrelada e se admirou com toda aquela vastidão? No meu caso, eu transformei esse grande interesse em profissão. A cosmologia é uma área da astrofísica que estuda o universo como um todo. Como eu sempre fui uma pessoa muito curiosa e indagadora, perguntas como “de onde viemos?” e “para onde vamos?” sempre povoaram meus pensamentos. E a cosmologia estuda exatamente isso: como o universo começou e como se desenvolveu para chegar ao que observamos hoje. E claro, faz algumas previsões para o futuro.

3) Há alguma relação entre cosmologia e cosmogonia? Se sim, poderia nos explicar?

No dicionário a palavra cosmogonia é definida como um conjunto de teorias, princípios ou doutrinas, com base científica, religiosa ou meramente mítica, que procura explicar e descrever a origem e a formação do Universo. Ou seja, não necessariamente as cosmogonias têm base científica. Cada povo e cada cultura tem um ou mais mitos sobre a origem do mundo que contam suas histórias e lendas. Já a cosmologia é uma abordagem científica. Ela busca desvendar metodicamente os princípios e as leis da natureza sem interferências divinas.

4) Como é ser uma professora brasileira e do sexo feminino na China?

A China é um país que investe e valoriza muito ciência, tecnologia e inovação. Trabalhar em um ambiente assim é extremamente gratificante porque permite que nossas pesquisas acadêmicas progridam constantemente através de diversos incentivos. Eu, por exemplo, estou inserida em projetos de fronteira científica e tecnológica buscando por respostas para perguntas fundamentais da física. O que é  incrível. Por outro lado, como na maioria dos países do mundo, as mulheres são sim sub-representadas na física chinesa. No centro de gravitação e cosmologia na Universidade de Yangzhou onde atuo, somos apenas 3 professoras mulheres entre um total de 20 professores. Na Academia de Ciência Chinesa, mulheres representam apenas 6%. No Brasil esse número é de 11% na Academia Brasileira de Ciência. Esse cenário demonstra o quanto ainda precisamos avançar. Já não temos mais dúvidas que diversidade gera inovação. Ou seja, estamos perdendo muitas novas ideias que poderiam levar a descobertas inovadoras. A física ainda é um ambiente pouco diverso.

5) É necessário ter algum conhecimento prévio de ciências para compreender o livro "De onde surgem as grandes ideias"? Ou ele é acessível para os totalmente leigos?

Em se tratando de ter boas ideias, diversidade não é o único fator relevante apesar de importantíssimo. Eu classificaria esse livro como um pequeno manual da criatividade, usando como pano de fundo o progresso do empreendimento científico através de exemplos de grandes descobertas e invenções. Nele, eu listo algumas ações práticas que podem ajudar no processo criativo, mas me baseando claro nas minhas experiências como cientista. Ao final de cada capítulo, por exemplo, eu apresento uma breve lista com dicas práticas relacionadas ao tema do capítulo que me ajudaram na carreira científica e que podem ajudar também os leitores. Não precisa ter nenhum conhecimento prévio. O livro é para todas as pessoas de todas as áreas. No livro os leitores podem encontrar alguns fatores importantes para que possamos ter boas ideias, além do tão sonhado e idealizado momento “Eureca”, utilizando o que aprendemos ao longo da história – principalmente, ao longo da história da ciência. Claro que o livro não é um guia formal de como ter boas ideias, até porque isso não existe. Mas, sim, minhas impressões baseadas em vivências, a partir da narrativa de grandes descobertas científicas.

6) Conte-nos um pouco mais da sua trajetória como cientista. Você sempre se interessou pelo tema?

Como eu mencionei, eu me interesso pelo tema desde de criança. Decidi ainda jovem cursar física. Perseguindo esse sonho de entender as coisas mais fundamentais da natureza, formei em física na Universidade de Brasília. Fiz o mestrado em astrofísica no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o doutorado também em astrofísica na Universidade de Roma “Tor Vergata”. Atualmente, resido na China há 10 anos, onde trabalho com pesquisas a respeito do universo primitivo. Ainda sabemos muito pouco. Como já dizia Isaac Newton "o que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano”, mas continuamos sempre buscando conhecer. A curiosidade é a nossa mola propulsora. E a partir dela, criamos. Basta olharmos o mundo ao nosso redor. Esse é o verdadeiro sentido de tudo. Não só da ciência.

7) Por fim, qual/quais conselho(s) você se daria a quem pensa em se aprofundar na cosmologia e/ou seguir carreira profissional nela?

Estudar bastante. Não é uma área fácil. Se é algo que você realmente gosta e quer ter como profissão, persistência é a chave para alcançar os objetivos. Essa é uma tecla que eu sempre bato nos meus vídeos. E ela serve para todas as áreas.


Sobre a entrevistadora:

Clara Monnerat é jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense em 2016. Atualmente, Monnerat compõe o time de jornalistas do blog Reino Literário, além de também atuar no Espaço Cultural da Marinha como auxiliar administrativa. 






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