[News]MIT-SP recebe Cultura Ballroom na Mini Ball da Geni

 MIT-SP recebe Cultura Ballroom na Mini Ball da Geni

Celebração da comunidade preta, LGBTQIAPN+ e periférica acontece dentro da Encontra de Pedagogias da Teatra



No dia 05 de março, terça-feira, a partir das 19h, acontece a primeira ball dentro da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp). Com curadoria de Luh Maza, a Encontra de Pedagogias da Teatra recebe a Mini Ball da Geni, realizada pela Pioneer House of Hands Up. Uma das primeiras personagens travestis da dramaturgia brasileira, criada por Chico Buarque na Ópera do Malandro (1978), Geni é a homenageada da primeira Casa da Cultura Ballroom do Brasil nesta ball que terá a dramaturgia brasileira como tema. Cada categoria relembrará espetáculos clássicos de autores do nosso teatro, como: Abdias do Nascimento (1914-2011), Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), Plínio Marcos (1935-1999), Maria Clara Machado (1921-2001) e Ariano Suassuna (1927-2014). A entrada é gratuita mediante a retirada de ingressos disponíveis uma hora antes do início da atividade.

A Ball é formada por categorias de dança, de beleza e outras comportamentais, apresentando performances cheias de vigor e criatividade. A Cultura Ballroom chegou ao Brasil por volta da década de 2010, sendo a Pioneer House of Hands a primeira do Brasil. Iniciada como um grupo de estudos por Eduarda Kona Zion em 2012, em Brasília-DF, a house segue sendo pioneira em suas ações. “Nossa primeira ball em SP homenageou figuras pioneiras da Ballroom, e agora vamos homenagear a primeira personagem travesti da dramaturgia brasileira. Ser pioneira significa abrir caminhos. Lembrar que estamos e sempre estivemos aqui é importante para que não apaguem nossas existências e nossos legados”, afirma a Mother Kona.

A Ballroom é formada por pessoas pretas, LGBTQIAPN+ e periféricas, público historicamente marginalizado, mas que, dentro da ball, tem suas performances e sua originalidade aplaudidas e exaltadas. A Encontra da Teatra é o espaço, dentro do MIT, que debate a presença dessas pessoas na dramaturgia, daí a importância de receber um evento como esse. “A Ballroom constitui um espaço de convivência físico e metafórico entre o salão de baile e as famílias/casas como a pioneira Hands Up. Acredito na potência do encontro entre teatro e Ballroom, aproximando artistas e públicos, ensinando e aprendendo um com o outro sobre arte e resistência” diz Luh Maza curadora da Encontra.

O que é Ballroom?

A história da Cultura Ballroom remete às drag balls (bailes drags) que aconteciam desde o início do século XIX (1842-1869). Com o Harlem Renaissance, bailes de máscaras aconteciam com frequência em locais como o Palácio Rockland e o Savoy Ballroom, com milhares de pessoas assistindo e prêmios concedidos para os melhores trajes.

Mas a comunidade ballroom vai surgir, com a estrutura que conhecemos hoje, no final da década de 1960-1970. Um marco desse momento pode ser visto no documentário The Queen (1968), em que Crystal LaBeija, pessoa preta, não aceita ter perdido o concurso de beleza de drag queens para pessoas brancas e resolve se manifestar. Ela criou então a House of LaBeija, primeira com esse formato, inaugurando esse espaço tão fundamental que são as houses. Esse processo aconteceu nas periferias de Nova York, e as houses se tornaram potentes ferramentas de engajamento comunitário, promovendo entretenimento, empoderamento, acolhimento e exaltação de pessoas negras, latinas, LGBTQIAPN+ e soropositivas.

No Brasil, a Pioneer House of Hands Up foi a primeira a se autodenominar uma House, sendo, portanto, a pioneira da cultura no país.

O que é uma Ball?

As Balls (bailes) desde sempre foram esse espaço de apoio, acolhimento e proteção, nas quais várias performances são realizadas em formato de batalhas, com categorias dançadas e categorias comportamentais. Mas são, acima de tudo, o lugar em que pessoas marginalizadas recebem afeto, aplausos, e reconhecimento por serem quem são. Onde seus corpos, que sempre foram alvo de violências ao redor do mundo, podem se expressar livremente.

As Balls são o grande momento em que a comunidade Ballroom se encontra para homenagear membros, realizar apresentações e concursos divididos em diferentes categorias, incluindo a dança/performance “Vogue”, elemento de grande visibilidade que atraiu olhares de diversos lugares para essa cultura revolucionária.

Sobre a House of Hands Up

A Pioneer House of Hands Up é a primeira casa sobre Cultura Ballroom e Voguing do Brasil. Nasceu em 2012 com o intuito de promover estudos e eventos para comunidade LGBTQIAPN+ e balls, promovendo, fomentando e preservando a memória performática negra, LGBTQIAPN+, latina e periférica. Iniciou como um grupo de estudos das estéticas de dança waacking e voguing e o nome foi escolhido a partir de uma síntese das vivências de seus integrantes na época.

Nesse período, essas estéticas sofriam preconceito dentro dos grupos de danças urbanas da cidade e eram chamadas pejorativamente de “gay style”. O significado de Hands Up rebate esse preconceito, fazendo alusão às movimentações de waacking e voguing e representando a atitude de sempre manter seus braços dançando, independentemente das adversidades.

O grupo ganhou destaque no Distrito Federal e chegou a se apresentar em mostras de dança pela cidade e participar de batalhas de waacking. Em 2015, se autodenomina oficialmente como uma House dentro da Comunidade Ballroom, e realiza seu primeiro evento: a Gótica Futurista Kiki Ball (2015 - DF). Desde então, vem oferecendo diversas contribuições para a cena local, regional, nacional e internacional. Com 11 anos de história, a Hands Up já formou centenas de artistas e contribuiu com a formação da cena e de outras houses em Brasília e no Brasil, tendo capítulos no Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e, mais recentemente, em São Paulo.

Sua trajetória teve início com treinos no Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, e já passou pelo Centro de Dança de Brasília (2018) e Instituto LGBT (2019). Realizou eventos como: Jingle Ball, suas 3 edições (2017, 2018 e 2019), sendo a última edição premiada no Edital Aldir Blanc Gran Circular (DF); a Ball de Todas as Casas (2018), selecionada pelo edital do Centro de Dança do DF; Mamacita Ball (2019), que também lançou o clipe Safada, de Caleba Brasil, que contou com a participação de muites integrantes da Hands Up; e a ação Vogue for Blood, em conjunto com a ONG Unaids Brasil, para conscientização a respeito da prevenção ao HIV/Aids.

Em São Paulo, já realizou duas balls: Pioneer Ball, em julho, que foi capa da Folha de S. Paulo; e a Ball da Excelência Negra, em novembro, representando, pela primeira vez, a Cultura Ballroom na programação da Expo Internacional do Dia da Consciência Negra, política pública da prefeitura de São Paulo.

FICHA TÉCNICA

Pioneer House Hands Up
Curadoria MIT - Encontra de Pedagogias da Teatra: Luh Maza
Host/Chanter: Trailblazer Mother Kona Hands Up
DJ: King Hands Up
Comunicação e textos das categorias: Jô Hands Up
Designer: Guttuz Hands Up
Produção: Diana Hands Up, Jayaci Hands Up e King Hands Up

Jurades: Legendary Flip 007, Legendary Overall Prince Puri Candaces e Ave Terrena 007 (jurada especial)

PROGRAMAÇÃO

Performances Musicais:
- Olívia Lopes (Ópera do Malandro - 1978)

- Jayaci Hands Up (Roda Viva – 1968))

Categorias:
- Vogue Femme

Inspiração: Navalha na Carne (1967) - Plínio Marcos

- Runway
Inspiração: Auto da Compadecida (1955) - Ariano Suassuna

- Old way
Inspiração: Eles Não Usam Black (1958) - Gianfrancesco Guarnieri

- Face
Inspiração: Sortilégio, Mistério Negro (1957) - Abdias do Nascimento

- Best dressed
Inspiração: Pluft, O Fantasminha (1955) - Maria Clara Machado

SERVIÇO
Mini Ball da Geni
05 de março, terça, das 19h às 20h30
Biblioteca Mário de Andrade | Sala Tula Pilar Ferreira
R. da Consolação, 94 – República, São Paulo – SP.
Gratuito. Os ingressos serão distribuídos 1h antes do início do evento. Entrada sujeita à lotação.
Contato para imprensa: Jô Gomes – (61)98163-6021


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