[Resenha] Desenhados Um Para o Outro


Sinopse: Abrangendo quatro décadas de uma colaboração artística e romântica sem igual, Desenhados um para o outro é um retrato hilariante dos Crumb, um casal singular na sua excentricidade e adoravelmente infame. O livro documenta a saga do relacionamento boêmio dos dois, retratando a confusão, a violência e a constante (e maravilhosa) sordidez que é o dia a dia chez Crumb: colapsos nervosos, neuroses, desastres na educação dos filhos, conjunções carnais repletas de fluidos e muito mais. O escopo cronológico de Desenhados um para o outro também serve ao panorama contracultural e de exilados dos Estados Unidos por quase meio século. As histórias começam nos morros do norte californiano, com singelos passeios pela Haight-Ashbury, e vão até uma louca e malfadada aventura pelo deserto do Arizona. Os hippies dos anos 1970, os yuppies dos anos 1980, o nascimento da filha Sophie, o êxodo do casal para a França, está tudo aqui. Este volume extraordinário mostra como essas duas almas profundamente cativantes, neuróticas e atormentadas encontraram a redenção ao se autodesenhar.

O que eu achei?
“Desenhados Um Para O Outro” reúne as obras completas do casal Aline e R. Crumb como quadrinistas, englobando um período de quase 40 anos de desenhos, sendo eles o único casal quadrinista. E sim, os dois trabalham com a ilustração das tirinhas, e é possível ver a diferença de traços e nos diálogos.


Nas mais de 200 páginas recheadas de ilustrações, vemos o surgimentos dos artistas trabalhando juntos nos quadrinhos, cada um com seus traços, personalidades e ideias. As histórias tem abordagens ácidas, desmedidas, quase pervertidas sobre as verdades do casal, onde vamos da insegurança de adentrar nesse mundo dos quadrinhos até a exposição da vida do casal ao extremo – sem pudor nenhum. Em suma, é o uso de todo o cotidiano particular em seu trabalho.


A relação deles entre si e com os que os cercam também são bem marcantes, mas a vida em família e a convivência entre si são, talvez, o ponto mais trabalhado nas história. Essa coleção retrata, sem medidas, o relacionamento dos dois, sem deixar de fora nenhum detalhe, por pior ou mais obsceno que seja - e tem muito disso.

Temas como sexo, bebidas, educação dos filhos são abordados o tempo todo, mas também temos questões emocionais. Aline mostra insegurança, medo, incerteza no início, e parece meio perdida e desconfiada, mas vai ganhando confiança ao longo dos quadrinhos, enquanto Robert lhe da apoio constante. E ainda que pareça um caso de casal harmonioso e amoroso, há momentos de É interessante notar também que, além dos diálogos e das onomatopeias, há várias notas sobre os detalhes nos desenhos, como roupas, erros e traços, que dão um ar de descontração ainda maior, com piadas direcionadas não apenas ao desenho, mas a quem os criou.


É um pouco complicado resenhar esse tipo de leitura, uma vez que é o meu primeiro contato com o gênero, e também devido a grande quantidade de temáticas e abordagens. Existe um fundo histórico presente nos quadrinhos que traz também alguns pontos sociais, tudo extremamente satirizado. Mas o que fica de notável é a liberdade do casal que encontra no desenho um mundo sem limites, aberto às suas vontades sem julgamentos, onde eles podem dar vasão aos seus desejos mais sórdidos, onde cada um tem seu traço, seus defeitos, suas qualidades, e nos mostram isso com muito humor e exagero.

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