[News] Novo espetáculo do Teatro Kaus Cia Experimental, As Três Velhas aposta no melodrama grotesco
Novo espetáculo do Teatro Kaus Cia Experimental, As Três Velhas aposta no melodrama grotesco
Escrito em 2003 pelo dramaturgo franco-chileno Alejandro Jodorowsky, o trabalho reflete uma sociedade hipócrita, cruel e que vive de aparências, a tradução do texto é do dramaturgo Aimar Labaki . A temporada é gratuita em vários teatros da capital paulista
As Três Velhas - foto Cuca Nakasone
Nesta montagem, três velhas habitam ruínas físicas e psíquicas, entre o real e o grotesco, revelando beleza no apodrecimento do corpo, da casa e do mundo.
Humor, drama e tragédia se misturam na nova peça do Teatro Kaus Cia Experimental, “As Três Velhas”. A obra explora a linguagem do teatro do absurdo e faz uma temporada gratuita na cidade de São Paulo: entre 14 e 24 de agosto, as sessões acontecem no Teatro Arthur Azevedo; de 4 a 14 de setembro, no Teatro Cacilda Becker; e, entre 25 setembro e 5 de outubro, no Teatro Alfredo Mesquita. O horário das apresentações é sempre de quinta a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 19h, já no Teatro Alfredo Mesquita o horário das apresentações é sempre de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 19h .
Escrito em 2003 pelo escritor franco-chileno Alejandro Jodorowsky, dramaturgo, ator, poeta cineasta e quadrinista, o texto teatral conta a história das gêmeas octogenárias Meliza e Grazia, duas marquesas decadentes que vivem em uma mansão em ruínas e são vigiadas pela centenária criada Garga, a tradução desta versão do texto foi feita para o grupo pelo dramaturgo Aimar Labaki.
Em uma noite incomum, devastadas pela fome e pelo abandono, as três mulheres desenterram segredos chocantes que conduzem a trama por caminhos inesperados. Ao longo da narrativa, temas como hipocrisia social, etarismo, patriarcado e violência vão se fazendo presentes.
Desde 1998, o Teatro Kaus pesquisa o surreal e o absurdo, sempre em textos de língua hispânica. “Gostamos de retratar personagens sedentos pela vida e em franco diálogo com o desespero, o abismo e a morte. Há mais de 15 anos queríamos montar algo do Jodorowsky”, comenta Reginaldo Nascimento, diretor e um dos fundadores do grupo.
“As Três Velhas” é definido pelo dramaturgo como um “melodrama grotesco”. “As duas irmãs foram violentadas pelo pai, enfrentam uma série de agressões e vivem na penúria. Mesmo assim, orgulham-se dos seus títulos, mantêm um lindo vestido de baile e sonham com um príncipe encantado”, acrescenta.
Os últimos trabalhos do grupo exploraram um lado mais filosófico do ser humano e eles queriam investir em outra estética. “Falar do feminino e da velhice eram dois assuntos que nos interessavam muito, ainda mais explorando o grotesco”, conta Amália Pereira, também fundadora do grupo, que está em cena ao lado de Tânia Granussi e Vera Monteiro.
“GRAZIA
Me coloca o vestido de gala, múmia sarnenta!
GARGA ajuda-a a colocar o vestido. GRAZIA se pavoneia ridiculamente, sentindo-se bonita.
GARGA
Se a senhorita se mantiver na penumbra, ninguém notará os remendos.
MELIZA
Grazia! Nada de movimentos bruscos. O vestido está tão gasto, pode rasgar.
GRAZIA
Mentirosa! Invejosa! Asquerosa! Você quer me deixar paralisada. Este vestido já foi
usado por nossa avó e nossa mãe. Nada pode estragá-lo. Nada vai me impedir de
dançar até o amanhecer.”
Trecho de “As Três Velhas”, de Alejandro Jodorowsky
Sobre a encenação
Esta montagem parte da ideia de que tudo apodrece, o corpo, a casa, o mundo, e é nesse apodrecimento que nascem outras formas de beleza e potência. Inspirados pela estética do grotesco, do decadente e do melodrama, criamos um espaço onde as três velhas transitam entre ruínas físicas e psíquicas. A atuação se apoia na estilização dos gestos, na construção de máscaras corporais e vozes deformadas, compondo personagens entre o real, o sublime e o grotesco.
O cenário da ideia de tempo que já se foi, evocando uma casa antiga, é composto por tecidos que possam remeter às paredes envelhecidas da casa. A presença de um quadro central no fundo da cena em que figura a imagem do Conde de Felicia, patrono da família, evoca um passado idealizado ou perdido. Três cadeiras de tamanhos e estilos diferentes, simbolizam a hierarquia entre as velhas, mas também sua instabilidade. Essa encenação é um convite ao desconforto, ao riso nervoso e à contemplação do grotesco como forma de resistência estética e política.
Em relação ao figurino, Telumi Hellen vai por um caminho de peças simples que sobraram de um tempo de realeza. Já o visagismo de Louise Helène tem a proposta de apresentar um grotesco belo. “Não queremos retratar uma velhice caricata, até porque o perfil de uma pessoa de 80 anos mudou muito em relação ao passado”, explica Reginaldo.
Além de músicas clássicas pouco conhecidas, a trilha sonora é formada por sons e grunhidos um tanto assustadores. É para dar uma sensação de que tudo naquele lar tem uma vida própria, como se até as paredes falassem.
Por um novo surrealismo
De acordo com Amália, apresentar esse trabalho é encerrar um ciclo de possibilidades estéticas e poéticas iniciado em 2010, com a montagem de “O Grande Cerimonial”, do espanhol Fernando Arrabal. Em 1962, os dois autores, junto com Roland Topor, fundaram o movimento artístico Pânico, que propunha uma arte performática caótica e surreal que se contrapusesse ao já estabelecido surrealismo.
Usando principalmente os ideais de Artaud e homenageando Pã, o deus grego da natureza selvagem e dos pastores, o coletivo defendia a realização de atos violentos e chocantes cujo propósito era gerar emoções intensas nos espectadores. Para eles, a radicalidade era uma importante força catalisadora de transformações.
A temporada de “As Três Velhas” do Teatro Kaus Cia Experimental foi contemplada na 20ª edição do Prêmio Zé Renato de Teatro.
Sinopse
As gêmeas octogenárias Meliza e Grazia, duas marquesas decadentes, vivem em uma mansão em ruínas. Devastadas pela fome e pelo abandono, são sempre vigiadas pela centenária criada Garga. Entre devaneios lúgubres, lembranças distorcidas e jogos perversos, elas alimentam fantasias de juventude, erotismo e poder. As Três Velhas é um melodrama grotesco que habita o universo simbólico de Alejandro Jodorowsky, em que o horror e o riso se encontram, expondo as feridas do corpo, da velhice e de um mundo cruel, onde todos e todas são transformados em mercadorias, vendendo-se a qualquer preço para garantir o pão de cada dia.
FICHA TÉCNICA
Autor: Alejandro Jodorowsky
Tradução: Aimar Labaki
Direção: Reginaldo Nascimento
Elenco: Amália Pereira, Tânia Granussi e Vera Monteiro
Cenário: Reginaldo Nascimento
Figurinos: Telumi Hellen
Visagismo: Louise Helène
Desenho de luz: Denilson Marques
Sonoplastia: Reginaldo Nascimento
Técnico operador de luz: Giovanni Matarazzo
Técnico operador de som: Giovana Carneiro
Técnico de palco: Leandro Gomes
Interpretação em libras: Sabrina Caires
Direção de produção: Reginaldo Nascimento
Produtora executiva: Amália Pereira
Assistente de produção: Giovana Carneiro
Realização: Teatro Kaus Cia Experimental
Produção: Kaus Produções Artísticas
Fotos: Cuca Nakasone
Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes
SERVIÇO
As Três Velhas
Duração: 70 minutos Classificação: 16 anos
TEATRO ARTHUR AZEVEDO
Data: 14 a 24 de agosto, de quinta a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 19h
Endereço: Av. Paes de Barros, 955 - Alto da Mooca
Ingresso: gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
Telefone: (11) 2604-5558
Acessibilidade: o espaço possui acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
OBS: Dias 15 e 22 de agosto haverá interpretação em libras
TEATRO CACILDA BECKER
Data: 4 a 14 de setembro, de quinta a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 19h
Endereço: R. Tito, 295 - Lapa
Ingresso: gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
Telefone: (11) 3864-4513
Acessibilidade: o espaço possui acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
OBS: Dias 05 e 12 de setembro haverá interpretação em libras
TEATRO ALFREDO MESQUITA
Data: 25 setembro a 5 de outubro, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 19h
Endereço: Av. Santos Dumont, 1770 - Santana
Ingresso: gratuito gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
Telefone: (11) 2221-3657
Acessibilidade: o espaço possui acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
OBS: Dias 26 de setembro e 03 de outubro haverá interpretação em libras
Informações à imprensa
Canal Aberto Assessoria de Imprensa
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