[Crítica] A meia-irmã feia

 

Sinopse:

A Meia-Irmã Feia é a releitura sombria da história clássica da Cinderela. Dessa vez, a trama acompanha a meia-irmã da princesa conhecida dos contos de fada. Elvira (Lea Myren) vive com a sua família em um poderoso reino onde poucas coisas são tão importantes quanto a beleza. Quando ela encontra a dose de determinação certa para conquistar o coração do príncipe, medidas extremas serão tomadas em meio a uma competição implacável pela perfeição física. Contra sua linda meia-irmã, Elvira recorre aos mais mirabolantes esquemas para cativar o pretendente e o status dos sonhos. Com muito sangue, mortes e suor, a jovem terá que lutar para ser a mais bela do local e tentar ser, finalmente, escolhida como a Rainha do Baile.


                          O quê eu achei?

Esse é um body horror que eu já estava querendo conferir há meses por ter lido críticas estrangeiras elogiando-o; ele foi exibido no Festival do Rio desse ano, mas infelizmente as sessões não foram compatíveis com os meus horários. Mas agora pude conferir a cabine online graças à parceria com a Autoral Filmes.

Uma viúva ambiciosa chamada Rebekka(Ane Dahl Torp) está falida e tem duas filhas feias, Elvira(Lea Myren)e Alma(Flo Fagerli)e acredita que ao se casar com Otto(Ralph Carlsson)seu casamento será salvo; porém na noite do casamento, ele vomita sangue e morre e elas descobrem que na verdade ele também estava falido. A filha dele Agnes(Thea Sofie Loch Næss) é bonita e frequentemente critica a madrasta e as meias-irmãs por investir em procedimentos estéticos fúteis como contratar um esteticista para quebrar e remodular o nariz de Elvira, ao invés de enterrar o corpo de seu pai.

O lacaio do príncipe convida todas as mulheres do reino a participarem do baile em que o Príncipe Julien(Isac Calmroth) escolherá sua futura noiva. E quando Elvira descobre que Agnes estava tendo um caso com o garoto que cuidava dos estábulos e os flagra fazendo sexo anal, ela conta à Rebekka que quase expulsa a enteada de casa e a trata como uma criada. E assim começa a competição entre ambas para se preparar para o baile.

Ressalto os cenários, os figurinos, e especialmente a atuação de Lea Myren. As cenas de tensão e terror psicológico são bem-construídas e grotescas; Elvira chega ao ponto de ingerir um ovo de tênia para se forçar a perder peso e fará de tudo para atingir um padrão de beleza inalcançável. A diretora e roteirista Emilie Blichfeldt não tem receio em expor cenas grotescas e nojentas ao espectador. 

O longa é todo falado em norueguês, mas se passa num reino fictício. A crítica à procura incessante pela beleza e a releitura do conto de fada original da Cinderela dos irmãos Grimm(na versão original as irmãs cortam os pés para que o sapato de cristal caiba e elas tem os olhos arrancados por pássaros após a verdadeira dona do sapato ser encontrada)é construída com maestria.

“A Meia-Irmã Feia” não é sobre abraçar sua beleza interior ou descobrir o empoderamento pessoal ao aprender que você não precisa de um homem. É muito extremo para qualquer mensagem e muito extremo para ser uma história com moral. Mesmo quando o príncipe, bonito e sem graça, olha para Elvira e diz que nunca dormiria “com aquilo”, Elvira não vacila. Ela se submete a tudo o que a malvada Rebekka tem reservado para ela. Alma, de alguma forma, escapou da crença predominante, quase sectária, da beleza artificial. Ela é a única personagem que olha ao seu redor e parece pensar: “É impressão minha ou esse comportamento é totalmente insano?”

Não é à toa que fez sucesso em festivais como o de Berlim e Sundance.

Há uma cena pós-créditos; certifique-se de assistir até o final.

Estreia nos cinemas dia 23 de outubro com distribuição da Autoral Filmes.


                           Trailer:







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