[News] EMBAÚBA PLAY REALIZA HOMENAGEM À JEAN-CLAUDE BERNARDET
A Embaúba Play faz, esta semana, uma homenagem especial ao grande Jean-Claude Bernadet, reunindo uma seleção de nove filmes dos últimos doze anos nos quais participou como ator e diretor. Bernadet foi crítico, teórico, cineasta, professor, ator, amigo, amante, inventor, rebelde e, sobretudo, um homem sempre inquieto.
São obras marcadas por suas parcerias e pela constante experimentação com múltiplas linguagens - teatro, performance, conversação, ensaio, ficção -, trabalhando com diferentes maneiras (possíveis, ao alcance) de fazer cinema. A programação inclui: A Última Valsa (Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, 2024), Performance com Uísque (Fábio Rogério, 2024), Cantando no Chuveiro (Fábio Rogério, 2023), Cama Vazia (Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, 2023), Pingo D’Água (Taciano Valério, 2014), Hamlet (Cristiano Burlan, 2014), Fome (Cristiano Burlan, 2015), O Homem das Multidões (Cao Guimarães e Marcelo Gomes, 2013) e #eagoraoque (Rubens Rewald e Jean-Claude Bernardet, 2021).
Confira abaixo o texto de Barbara Bello, curadora da plataforma, sobre Bernadet.
No último sábado (12), acordei com a mensagem de um professor me contando que Jean-Claude Bernardet havia feito sua passagem. No dia anterior, falávamos dele e de um texto no qual saía em defesa de Ainda agarro esta vizinha (Rovai, 1974), comprando a discussão intensa ao redor das pornochanchadas. Fato é que não havia pessoa melhor para me dar a notícia, que não um professor - entre nós, e creio que entre muitos outros professores e alunos, Jean-Claude foi e seguirá sendo partilhar o desejo pelo cinema como discussão viva, acesa, arriscada. Nunca o conheci, mas gostava de imaginá-lo no alto do Edifício Copan mirando São Paulo e seu enxame de imagens - ali, talvez, preparando o próximo texto, a próxima dança, a próxima personagem. Das leituras amplas, de diálogo profundo com seu tempo, às performances transgressoras - seja nos anos 1970 ou em 2025 -, a vasta trajetória de Bernardet deixa ao cinema brasileiro contribuição de enorme importância. Escreveram algumas vezes nos últimos dias, repito aqui: ainda falaremos muito sobre ele.
Jean-Claude foi crítico, teórico, cineasta, professor, ator, amigo, amante, inventor, rebelde, sempre inquieto. Escreveu durante muitos anos para o Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo, além de colaborar com diversos outros veículos - destaco aqui a Lampião da Esquina -, e trabalhar na Cinemateca Brasileira. Ao longo da vida, publicou muitos livros fundamentais, como Brasil em tempo de cinema (1967), Cineastas e imagens do povo (1985), Voo dos anjos: Bressane, Sganzerla (1990), O autor no cinema (1994 e 2018), Historiografia clássica do cinema brasileiro (1995), entre outros. Envolveu-se também diretamente com a realização, como no roteiro de O caso dos irmãos Naves (Luís Sérgio Person, 1967) e Um céu de estrelas (Tata Amaral, 1996), e atuando em filmes como Gamal, o delírio do sexo (João Batista de Andrade, 1969), Ladrões de Cinema (Fernando Coni Campos, 1977) e Orgia, ou o homem que deu cria (João Silvério Trevisan, 1970). Como diretor, realizou uma série de filmes, da parceria com João Batista de Andrade em Paulicéia Fantástica (1970) ao mais recente A Última Valsa.
Em seus últimos anos, seguiu escrevendo livros e trabalhando cada vez mais com atuação. É linda a cena de Pingo D’água (Taciano Valério, 2014), na qual Jean-Claude contracena com Everaldo Pontes e, entre flertes e carícias, responde à fala do personagem - que afirma estar fazendo sua última performance, por achar que já não têm mais idade para isso - com a pergunta: “Não é a última. Quantas vezes você já disse isso? Uma, duas, três, quatro, cinco?”, enquanto tenta seduzi-lo para um beijo. É também de uma natureza amorosa e finita a imagem de Jean-Claude ao lado de Helena Ignez, no alto de uma montanha íngreme, suspensa, de braços abertos - modulando o corpo através do vento, dançando juntos algo guerreiro, livre e fúnebre -, ao final de A última valsa (Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, 2024). Encontramos aqui essa relação do corpo com a história, entre Helena e Jean-Claude, incansáveis figuras de coragem, sempre a postos para bagunçar o que se espera do cinema. Ambos, sem medo de lidar frontalmente com os estados limítrofes da vida e do corpo, tomando-os como matéria valiosa de invenção.
Lembro de assistir Cama Vazia (Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, 2023) quando estava começando a escrever crítica, completamente espantada, cheia de vontade e medo de escrever sobre o filme. À época, achava que escrever sobre Bernardet era muito para uma jovem. Hoje penso justo o contrário, que sua obra não se interessa por essa coisa de figura intocável. Para Bernardet, o quente sempre foi intervir, movimentar. Da vitalidade que surge entre gerações, caminhando e insistindo juntas, é que se desdobram as ideias, os projetos, as discussões, as imagens inimagináveis. Assim espero que muitas jovens venham a escrever sobre seus filmes, tomadas pelas performances ambíguas, por seu corpo crítico, por aquilo que nasce do olhar frontal à morte, por insistir na interlocução e nas parcerias. Que sigamos descobrindo Bernardet aos poucos, curiosidade contínua levando de uma crítica à outra, a seus diálogos radicais com este e outros tempos, nessa interlocução ativa entre pensar e fazer cinema no Brasil. Quando penso em Bernardet, penso onde pintam conflitos de pontos de vista, onde a crítica e os filmes são o que “não devem” ser.
Esperamos que o encontro com os filmes seja radiante, revelando nuances que ainda não havíamos percebido. Que sigamos aprendendo com ele.
Lançamentos:
A Úlltima Valsa (Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, 2024)
Performance com Uísque (Fábio Rogério, 2024)
Cantando no Chuveiro (Fábio Rogério, 2023)
Cama Vazia (Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, 2023)
Já estão na plataforma:
Pingo D’água (Taciano Valério, 2014)
Hamlet (Cristiano Burlan 2014)
Fome (Cristiano Burlan, 2015)
O homem das Multidões (Cao Guimarães e Marcelo Gomes, 2013)
#eagoraoque (Rubens Rewald e Jean-Claude Bernardet, 2021)
SOBRE A EMBAÚBA PLAY
A EMBAÚBA PLAY é uma plataforma especializada em cinema brasileiro contemporâneo, que organiza e facilita o acesso aos longas, médias e curtas, a partir de um recorte curatorial. Outra particularidade do serviço é que o aluguel será avulso, assim não será necessário fazer uma assinatura fixa. O valor dos longas-metragens é menos que 10 reais (1,50 dólar) e os filmes podem ser vistos em até 72 horas.
A plataforma conta com mais de 550 títulos, trazendo obras de nomes de ponta do cinema independente nacional, como Adirley Queirós, Affonso Uchôa, André Novais Oliveira, Bruno Safadi, Felipe Bragança, Gabriel Mascaro, Guto Parente, Helena Ignez, Juliana Rojas, Kleber Mendonça Filho, Leonardo Mouramateus, Marcelo Caetano, Marcelo Pedroso, Marco Dutra, Marília Rocha, Maya Da-Rin, Paula Gaitán, Renata Pinheiro, Rodrigo de Oliveira, Sandra Kogut e Thiago Mendonça.
Traz também filmes de cineastas que se destacam pelos seus trabalhos em curta metragem, como Ana Carolina Soares, Fábio Leal, Distruktor, Karen Akerman, Marcellvs, Marco Antônio Pereira, Marcos Curvelo, Rafael Urban, Sávio Leite e Thais Fujinaga.
A Embaúba Play é um projeto realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo.



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