[Crítica] Dormir de Olhos Abertos
O filme Dormir de Olhos Abertos nos apresenta um pouco sobre a sobrevivência dos imigrantes chineses no Brasil. O longa de 1h 37 min se passa em Recife, Pernambuco. Desde o começo, o tom do filme é passado aos espectadores, isso não é um romance, a vida é cheia de percalços e assim seguimos.
Começamos a história com Kai que espera um homem que fala castelhano no aeroporto, que acaba a rejeitando no último momento ao dizer que o relacionamento não iria funcionar e por isso não iria mais viajar com ela. Kai decide vir ao Brasil sozinha, ao chegar ela é facilmente detectável como turista, no entanto, ela deseja se misturar ao povo local. Durante um passeio, acaba conhecendo Fu Ang que tem uma loja de guarda-chuvas e está à espera da época de chuvas em Recife. Ele estranha Kai estar a passeio na cidade e a entrega de presente um guarda-chuva. A Taiwanesa pede um alicate emprestado e, quando volta outro dia para entregar, a loja fechou. Lá, ela encontra uma caixa com postais de Recife e, chegando ao hotel, percebe que alguns foram escritos por uma mulher, Xiaon Xin e assim começa a acompanhar a sua história no Brasil.
A obra não apresenta nenhum romance, apenas a crua e fria realidade do dia a dia de muitos imigrantes, ou seja, o filme não tem um final feliz, é apenas um recorte de histórias que juntas nos mostram como o ser humano trata o outro. Ao longo do filme, vemos ações xenofóbicas praticadas por locais contra os imigrantes, como imitar um suposto dialeto mandarim e pequenas agressões que ao longo do tempo podem marcar a alma, mas também vemos algumas pessoas tentando ajudar, sem muito sucesso, pois a barreira linguística atrapalha. As inseguranças dos que saem de seu país enfrentam, mesmo que algo bobo, como a preocupação de Fu Ang, se o cheiro do corpo muda devido à alimentação e vivências ou algo grande como a alimentação de uma cultura que era totalmente diferente da outra, como vemos em uma cena em que os 2 trabalhadores chineses conversam em como sentem falta de comer comidas separadas e não tudo junto como os brasileiros e ainda por cima com farofa.
Uma ótima discussão, principalmente para os dias atuais em que a imigração acontece todos os dias em alto fluxo, seja para conseguir uma vida melhor, para fugir de governos autoritários, para começar uma nova vida. Mostrando que, mesmo sabendo a língua local, tendo uma rede de apoio, ainda podemos ter obstáculos em nossa vida que vão além de algo ao nosso alcance.

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